PASSARAM A MÃO NA PERIQUITA DA PININHA

A Pininha entrou esbaforida.

Dona Gertrudes, estou indignada! Arretada!

Tem que haver pena de morte.

Calma, Pina! O que aconteceu?

Abusaram da minha ingenuidade. Quase chamei o Seu Takeo. Pena que eu não tinha o celular dele.

Tome um copo de água, acalme-se e me conte.

Abusaram de mim, dona Gertrudes. Não se pode confiar em ninguém neste mundo. Esse metrô cheio, esses ônibus cheios, esses trens da CBTU cheios.

Não venho mais trabalhar.

Eu estava tomando o maior cuidado, distraí e a senhora nem queira imaginar o que fizeram com eu.

O quê, Pininha?

Passaram a mão na minha periquita e nem vi.

Como assim?

Passaram a mão na sua periquita e você não viu?

Juro, dona Gertrudes.

Você nem parece mineira. Não sabe que tem que tomar cuidado com o trem. Está cheio de tarado que no aperto se aproveita. Já não disse para você levar um alfinete, pisar no pé, essas coisas.

Disse, mas eu não estava no trem.

Onde você estava?

Na plataforma do trem.

E com essa saia de crente passaram a mão, Pininha? Faça-me o favor. Precisa estar muito atrasado.

Não estava, Dona Gertrudes e olhe que eu tomei o maior cuidado. Estava com ela protegidinha. Toda coberta. Para não pegar gripe.

Como pegar gripe, Pininha? Onde já se viu pegar gripe na periquita?

Gripe aviária, dona Gertrudes. Deixo sempre a gaiolinha bem protegida para não pegar friagem.

Pina, você está confundindo as coisas. Gripe aviária não dá em gente. Só dá em aves.

Então, dona Gertrudes... Periquita não é ave.

Pininha... Que raios de periquita você está falando. Onde passaram a mão?

Passaram a mão na periquita que eu comprei para a Toninha, minha sobrinha. Dei um cochilinho na plataforma e roubaram a gaiolinha da menina. Não é um absurdo, dona Gertrudes?

É, Pininha... Você é um absurdo...

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