Eu precisava te falar isso.

Estou cansado de ficar sozinho.

Cansei de toda essa merda.

Cansei das drogas, cansei de fumar, cansei de beber, cansei de me apaixonar.

Cansei dessa merda de vida.

Recordo daquele que não sou, trago a minha mente as frustrações... não consigo achar palavras para definir minha atual situação.

Tento achar o momento perfeito, mas as combinações nunca deixarão. Procuro o momento em que as diversas probabilidades se encaixam, mas é tudo em vão.

Há momentos de vazio; momentos que pegam repentinamente sem eu perceber e compreender. A vida se torna um saco depois desses momentos.

Regulo a quantidade dos meus medicamentos: aumento, diminuo, finjo que agora está tudo bem, porém, percebo que eles não vão me livrar a cara do que é preciso enfrentar.

Coloco-me em frente à vida e isso me deixa mais confuso.

- Antigamente podia-se viver – diz meus avós.

Mas agora não, porque ninguém consegue viver no que não é possível compreender. E não é possível compreender porque não há sentido, não a razão: é tudo uma ausência de sentido.

Leio e paro... fico nervoso por não ser nada, por não entender nada. Prefiro desviar a vida para banalidades.

- Não é insegurança, é não ter o que fazer. – digo a única pessoa que gosto, mas não gosto.

Minha cabeça entrou em colapso e agora nada se resolve: não termino, não começo, não continuo.

Sinto doer minha cabeça de tanta dor nos nervos, como se minha cabeça estivesse tomando choques. Os limites vão me pressionando mais, vão me sufocando mais. Meu corpo e minha alma estão aprisionados em uma vida que não escolhi, por problemas que não queria para mim, mas é tudo o tempo, é tudo o que vem de fora para dentro, e nunca ao contrário.

Tento me manter salvo, tento me encaixar num padrão, justificar meu estado, mas dói minha cabeça. Quanto mais vivo, mais intolerante fico, mais nervoso, mais irritado, mais agressivo, mais desencantado. Então não me venha falar o que tenho, não venha me criticar, não venha me julgar. Eu não escolhi tudo isso aqui, não pedi nada, apenas aceitei sem verificar as conseqüências. Toda essa merda de planejamento e sensatez não servem pra merda nenhum.

Eu queria acabar com os outros, não comigo. Não é meu sacrifício, é no sacrifício do outro que consigo a liberdade, consigo a paz que tanto procuro. Quanto mais destruir os limites, mais essa dor em minha cabeça diminuirá. Não é nada pessoal, não é apenas violência gratuita, é a demonstração da inversão das partes. É para acabar com tudo isso que me envolve; responder aos chutes e pontapés aquele que segura a coleira; dizer que o limite não se colocará mais; e quebrar as grades da minha prisão pessoal.

Não se trata de liberdade, mas dos minutos de perfeição... o momento que as combinações, por segundos até, serão reguladas por mim, o momento de realização da minha vida.

O que vier depois não me importa, minha vida já estará realizada.

Se trata de poder? Não, trata-se do que realmente importa, do que realmente devemos fazer. Não é uma ordem, não é um pedido, apenas uma resposta: o sentido.

As coisas se tornam mais simples quando descobrimos o sentido. Não aquele que nos mandam, mas aquele que criamos: o nosso sentido.

No exato momento tenho vontade de pegar minha doce injeção letal e aplicar no traseiro que envia toda essa merda. A vida é uma merda, é inegável. Não há ser humano decente que não posso enxergar que a vida simplesmente é uma merda. Não dá, não consigo acreditar em alguém que sorri e diz que gosta de viver em tudo isso aqui. Assumir que tudo isso é uma merda é a forma mais humana que um humano pode ser, pois quando aceitamos o fardo e aquilo que está posto ao nosso redor, pouco importa a cor da pele, pouco importa a classe social, o conhecimento, a divisão de poderes, a hierarquia, a minha roupa, sua roupa, o jogo de talheres ingleses do século XIX talhado a ouro na prataria fina e de bom gosto de algum rei burro o bastante para perder tempo com isso.

Já estou onde preciso, já aloquei minha cabeça no lugar em que quero. Eu precisava disso, tinha que colocar tudo isso para fora. Não quero ser escritor, não quero fazer algo que alguém veja; é somente por necessidade. É como uma injeção injetada no meu cérebro que puxa para fora todo o tormento, mas é só por algum tempo. Escrever pra mim é isso: colocar minha raiva, rancor, ódio, magoas e preocupações, que vão continuar as mesmas, para fora. Se urinar e defecar tiram nossas impurezas fisiológicas, escrever tira nossas impurezas psíquicas.

Meu corpo está leve; os efeitos chegaram. Mesmo com minha cabeça doendo sinto sono, vou fechar meus olhos e descasar, para mais um dia.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 12/07/2008
Reeditado em 29/10/2008
Código do texto: T1077286