A visita do Sátiro

Interior de Pernambuco.

Dina gostava um bocado de sair à noite, mas sempre chamava sua vizinha Elza para as empreitadas nas festas e nos arrasta-pés.

Certa vez, ela deixou de ir numa das festas, porém Elza foi. Dina ouviu uma conversa de que durante a comemoração um homem fora tocar; nunca as pessoas tinham-no visto pelas redondezas e tal forasteiro tocou muito bem todos os tipos de música; durante quase a noite toda, madrugada adentro; quando já estava próximo o raiar do dia, o homem começou a se achar nervoso, queria ir embora de qualquer jeito, mas parecia confuso.

Elza se ofereceu para acompanhá-lo, ignorando os avisos das demais pessoas que não conheciam aquele músico; havia uma pequena multidão de moradores locais, cada qual rumando para suas casas, alguns dormiriam, outros ainda teriam que trabalhar; a pequena cidade não costumava parar por ocasião das festas do meio do ano, pelo contrário, o povo que ali morava, trabalhador e comprometido com sua pequena e ordeira sociedade, usavam as festividades para arrecadar renda e donativos para ajudar na manutenção da delegacia, da escola elementar, da igreja local e da prefeitura.

Quando os primeiros raios de sol despontaram trazendo a aurora de um novo dia, o músico se desesperou, e correndo arrastava Elza consigo para todos os lados, parecia ter medo de passar o dia na pequena cidade, algumas pessoas viram-no gritando as seguintes frases:

“O tempo acabou...”;

“Preciso voltar...”;

“Por hoje acabou”.

Mas o que mais intrigou as pessoas foi o fato de que Elza desapareceu desde então, dois dias se passaram sem notícias dela; Dina foi durante os dois dias até a casa da amiga desaparecida, mas sem sucesso em encontrá-la. Na noite do primeiro dia verificou que a casa estava fechada; porém na segunda noite algo estava errado.

A casa permanecia fechada, mas havia luzes no interior; o estranho era que não era luz elétrica que iluminava o cômodo, parecia ser uma iluminação produzida por velas, visto que sombras bruxuleavam através das janelas.

Dina não sabia o que fazer; chamou pela amiga sem obter resposta, chamou mais uma vez; e nada; chamou de novo e de novo, ninguém apareceu. Por intuição ela entrou no terreno onde a casa era localizada e rodeou o domicílio, verificou que um pequeno galinheiro que Elza possuía atrás da casa estava destruído e muitas penas jaziam caídas no chão, mas sem nenhum sinal das aves.

Na porta dos fundos o pequeno tapete de boas vindas ostentava duas marcas muito estranhas, pareciam pegadas profundas feitas por cascos de animal, lembravam pegadas de boi ou bode; ela não tinha certeza. De que forma um animal como boi ou bode poderia ter parado frente aquela porta apoiando-se somente sobre duas patas?

O medo nasceu instantaneamente, e, Dina teve um pressentimento acompanhado por um calafrio que percorreu todo o seu corpo.

“Olhe pelo buraco da fechadura”_ pensou ela.

Com medo, mas querendo saber o paradeiro de sua amiga; Dina se curvou até o orifício da fechadura, tapou um dos olhos com a mão e com o outro espiou para dentro da casa. Terrivelmente, ao focalizar a visão pela fechadura ela viu do lado de dentro um outro olho; um olho medonho que já a espreitava, freneticamente. O susto foi tão violento que Dina, tomada de pânico, gritou, saiu cambaleando e tropeçando de costas e caiu desmaiada.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 16/07/2008
Código do texto: T1083335
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