Tribunal de Rua

O tribunal era formado por seis integrantes, que chegaram em um carro preto, armados e cheios de convicção formada pela experiência na matéria ora tratada.

O réu era menor, franzino menino de rua, viciado em crack, residente sob a marquise de um cinema desativado, doente, com pouquíssimo estudo e de olhos assustados.

Os representantes legais eram desconhecidos, e seu único defensor não pôde comparecer, pois está muito ocupado, tratando de todos os problemas da humanidade.

Estava sendo julgado por vários crimes, sendo os furtos de um bolo de fubá na padaria, de uma sandália de borracha de uma lojinha, de um sabonete na farmácia e da bolsa de uma moradora da região, subtraída de dentro do carro que ela esqueceu aberto.

A pena escolhida foi a morte, uma bala na nuca, que o condenado receberia de joelhos, com os olhos vendados para que os executores não lembrassem dos próprios filhos.

O enterro será uma vala comum, no matagal mais próximo, tornando quase impossível e economicamente inviável a investigação acerca das identidades tanto do executado, quanto dos executores.

E assim vão prosperando os Tribunais de Rua.

Sem advogados constituídos; em que um corpo misto de acusação e juízes ad hoc (chamados por eles mesmos de justiçeiros) raramente absolvem e frequentemente aplicam e executam com as próprias mãos a pena capital.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 21/07/2008
Reeditado em 21/07/2008
Código do texto: T1090404
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.