Proctologista??

Aquela situação já não se sustentava. O sono era interrompido no meio da madrugada ou qualquer lugar onde estivesse ela vinha e me colocava muitas vezes em maus lençóis.

Já me machucava, interrompia o sono tranqüilo, o almoço em família, o jantar ou até mesmo um simples cochilo no sofá.

Decidi então tomar uma posição, literalmente uma posição e este era meu maior e desconfortável medo.

Fui atrás de um especialista, porém desconhecia até o presente momento tal especialidade.

O livro do convênio me ajudou nesta inglória tarefa, mesmo sendo adepto das melhores resoluções dos problemas, algo me incomodava.

A especialidade estava contida no livrinho do plano médico, tive até certa dificuldade em ler aquele palavrão: Proctologista.

Marcado o dia da consulta, o calvário ainda estava por vir. Como Jesus Cristo atravessando o deserto me senti só e provocado pelo inimigo maior, no meu caso a surpresa do que viria.

Chegando ao consultório sou recebido por uma secretária simpática, porém enquanto falava não parava de digitar e me mandou subir.

Na sala de espera umas 10 pessoas, idades variadas, mas com a mesma cara de interrogação, folheando aquelas revistas velhas de consultórios.

Da minha bolsa tirei meu livro, que sempre me acompanha, estava lendo a biografia de Che Guevara e quando me dei conta deixei de lado o livro.

Procurei me distrair e peguei uma revista, quando olhei pra capa a revista Bundas (alguém conhece esta revista?) e minha preocupação começou a aumentar com tantas “coincidências”.

Comecei então a reparar na cara dos pacientes que saiam do consultório e não consegui decifrar e nem ler em suas faces o que sentiram. Alguns saiam com cara de dor, outros como entraram, alguns até sorridente.

Chegada minhas vez, travei na cadeira, não conseguia levantar e fui chamado novamente.

Levanto e sigo aquele caminho, o ultimo passos de um homem, lembrei do belo filme de Tim Robbins, com o extraordinário Sean Penn, baseado no livro da freira Helen Prejean, vivido no filme por Susan Sarandon, Oscar de melhor atriz pelo filme.

Entro na sala e sou recebido por um médico, bonito, alto, bem cuidado e que me cumprimenta com aperto de mão, e posso sentir o tamanho dela.

Desespero-me novamente, olho em volta e no meio da sala uma maca coberta e em volta alguns aparelhos ao lado, que me lembra tortura e a ditadura militar.

Quase saiu correndo pela porta afora, mas naquele derradeiro momento a danada volta e me pega de jeito.

Começo a explicar, doutor esta coceira esta me tirando do sério, mas tão do sério que mudou minha vida, (A.C e D.C) logo estou aqui em suas mãos. Percebo o ato falho e digo novamente estou ao seu dispor, a emenda ficou pior que o soneto.

O doutor me olha fundo nos olhos e minha coluna gela, e me convida para maca. O teto quase caiu em minha cabeça, e novamente estou emperrado naquela cadeira.

Levanto, sigo a passos de cagado ou seria tartaruga, rumo àquela maca da “dita-dura”, e lembro deste péssimo trocadilho que alguns comediantes ainda usam.

O doutor solicita que fico em determinada posição, joelhos na maca, e me diz, fica tranqüilo que não ira doer nada, apenas relaxa.

No final de sua frase tive vontade de espancá-lo e enfiar o meu dedo em seu...nariz.

O doutor se aproxima, coloca uma proteção no dedo, e começa o exame. O exame demorou exato 1 minuto, o maior minuto que passei em minha vida.

Voltamos para sua mesa, me deu um diagnóstico simples e tranqüilo, uma bactéria, alguns remédios, no entanto, ao começar a levantar da cadeira para ir embora ou fugir ele sentenciou: te vejo no retorno e minha coluna gelou novamente.

Marcos Barbosa
Enviado por Marcos Barbosa em 22/07/2008
Código do texto: T1091969