Nós no sistema carcerário

Noutro dia, assistindo a um vídeo de uma música dos Racionais MC's, foi mostrada a imagem de uma tatuagem no braço de um presidiário que me intrigou, pois era o desenho de um cemitério, com os dizeres mal-escritos:

" Dizem que não rezo para meus inimigos.

É mentira!

Rezo todos os dias para que apodreçam no inferno."

Quando se olha para aquelas prisões apinhadas de gente, com as mãos para fora das celas, muitas pessoas pensam:

_Que se danem, morram esses filhos da puta...se estão ali é porque boa coisa não fizeram.

Não critico ninguém, pois vivemos uma democracia e cada um tem o direito de pensar no que acredita.

Mas se tentarmos transportar nosso ponto de vista para o interior de uma prisão, e colocarmo-nos no lugar desses homens e mulheres privados de sua liberdade, certamente começaremos a pensar em algo melhor para a segurança dos brasileiros.

Imaginem que existem várias classes de detentos, entre elas os que durante uma eventualidade, cometeram um crime (pensem bastante e analisem vocês também seriam ou não capazes de matar alguém), e outros agentes criminosos, que têm o crime como única opção, ou como profissão, e outros que são funcionários do crime.

Não podemos deixar de lembrar que geralmente, os ricos possuem privilégios dentro do sistema carcerário, mesmo com a nossa Constituição dizendo que todos são iguais perante a lei.

Imaginem ainda, que o sistema não educa e não ressocializa ninguém por vários motivos...

Não há uma distribuição adequada, pois perigosos homicidas, seqüestradores, assaltantes que roubam e ainda matam suas vítimas, são trancafiados juntamente com os primários, que roubaram quinquilharias ou traficavam drogas para sustentar o vício.

O presidiários pobres, serão obrigados a pedir favores para os que tem dinheiro, pois se não tiverem família, ou se a família for hipossuficiente, eles com certeza não receberão visitas, e não terão quem leve um sabonete, uma pasta de dente, uma troca de roupas, etc...enfim, ficarão devendo para outros presos, e cometerão outros crimes dentro da própria cadeia, ou serão instrumentos do crime, e quando ganharem a liberdade, serão obrigados a pagar, servindo alguém que o ajudou ou financiou dentro do próprio sistema.

Tudo isso vira um círculo vicioso, e o detento só pensa em vingança, em ser o terror do sistema que o colocou naquela situação, e em tirar de quem tem, em pisar na cabeça dos inimigos, fazendo uma escalada para o crime grande, para a fita perfeita...

O Ministério Público cumpre a difícil missão de defender os presidiários e de zelar para que eles não sejam submetidos a condições subumanas, porém, são muitas cadeias, muitos detentos para poucos promotores.

Os agentes penitenciários ganham mal, e aceitam propinas para passarem celulares, drogas e até armas para dentro dos presídios e assim, aproveitando-se das más condições que o Estado oferece, as organizações ou associações de presos começam a surgir, com estatutos, normas de conduta, códigos de ética, hierarquia de cargos; e assim, os presidiários vão se organizando, criando partidos dentro do sistema carcerário, que disputam entre si o comando das cadeias.

Enquanto isso o Estado dorme o "sono dos tolos", os secretários dizem e acreditam que não existe perigo, que essas organizações podem ser sufocadas a qualquer momento e chegam até a dizer que não existem, que é lenda, que é mito...vejam se pode.

E enquanto o próprio Estado infla as cadeias com primários e inocentes até; que não tiveram condições para apresentar defesa, e um sistema que trata mal os presos, com alimentação deficiente e falta de higiene, as associações de presidiários ganham a confiança, inclusive das famílias dos detentos e continuam a megulhar na criminalidade.

O que fazer?

Acho que a única solução são os institutos, as câmaras, os fóruns de pesquisa, por exemplo o IBCCRIM e outros, estudarem bem o sistema, entrevistarem ex-presidiários que conseguiram a ressocialização, traçarem um plano, um mapa e pregarem o exemplo da educação para que pelo menos os filhos dos detentos, não sejam seduzidos pelo glamouroso e nefasto mundo do crime.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 22/07/2008
Código do texto: T1092253
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