SER OU NÃO SER...

Por Ulisflávio Oliveira Evangelista

A semana prosseguia com a maior naturalidade possível, no entanto, Ricardo a muito não sabia o que fazer naquela situação. Podia parecer simples, mas não era, pelo menos para ele!

Não sei se já aconteceu com você, vou tentar explicar...

Ricardo era uma pessoa normal, era não, é, afinal, estamos falando de uma personagem – fictícia - , porém real... Então, uma pessoa normal, um bom emprego, um bom salário, um bom apartamento, um bom carro, um cara bacana.

Não sei se vocês repararam, mas para ser uma pessoa normal essa descrição o deixa mais “anormal” possível. É sério, quem é que você conhece nessa situação, hã... quem?

Tudo bem, vou deixar pra lá, o importante é tentar ajudar o Ricardo, afinal o problema dele é muito, muito sério!

Ricardo há tempos é amigo de Andréia, se conheceram numa agência publicitária – esqueci de mencionar que Ricardo é publicitário – com o tempo, esta amizade foi crescendo, crescendo... mas ficava aí, não passava de uma longa e agradável amizade, até que...

Bom, Andréia namorava o Gustavo, não era desses namoricos de verão não, era coisa séria, se conheceram no Nordeste, num desses pacotes da CVC parcelados em 10x sem juros. Mas o namoro acabou, não de uma forma comum, Gustavo numa noite saiu com alguns amigos, bebeu e engravidou Sílvia, mas foi sem querer...

Andréia não acreditou, por mais que Gustavo tenha explicado os mínimos detalhes da noite, a sua não intenção e a bebedeira. Não adiantou, ela não acreditou nas palavras dele!

Águas passadas, a vida continua, este era o pensamento de Andréia. Duns tempos pra cá, Andréia de fato desencana, sete dias de festa era pouco na semana – dizia que queria tirar o atraso – Ricardo sozinho muitas vezes fazia companhia a ela, mesmo que no fundo, tentava convencer a Andréia sobre uma reconciliação com o Gustavo, afinal de contas foi sem querer...

Andréia nem dava ouvidos ao papo de reconciliação, porém começou a dar ouvidos ao Ricardo, observava seu rosto com outros olhos...

Ricardo ainda inocente, despercebido, aceitava seus convites, saiam para dançar, no início como um grupo de pessoas até que numa noite dessas o grande grupo se resume apenas em Andréia e Ricardo.

O tempo passa, Ricardo agora atento à situação, tentava encarar a circunstância como um verdadeiro homem, ou seja, achava outros compromissos! Não eram desculpas, apenas compromissos inadiáveis. A situação já era desesperadora para Ricardo há tempos, as desculpas - quer dizer, compromissos - foram acabando, das melhores até as esfarrapadas, o que não acabava mesmo era a cara-de-pau da Andréia na segunda-feira na agência.

- Oh Ricardo, fiquei te esperando até tarde sábado!

- Então, eu até ia mas...

- Mas o quê Ricardo?

- Me deu um sono...tão violento que acabei dormindo mais cedo!

De longe se percebe que dar desculpas ou melhor, compromissos, não era o ponto forte de Ricardo. Os dias foram passando, telefonemas não atendidos, o celular sempre na caixa de mensagem e eventualmente desligado para não correr o risco de ouvir na segunda-feira aquele velho papo de que “deixei recado e você não retornou.”

Ricardo como um verdadeiro homem, macho, gaúcho que era, resolveu tirar toda a sua coragem e falar que não rolava a “química”, desembuchar logo cada palavra que estava engasgada na garganta. Naquele momento o telefone toca, ele sem medo atende e diz:

- Alô?

- Ricardo? – Uma voz surpresa feminina responde do outro lado da linha.

- Sim, Andréia?! – Do outro lado uma fraca voz.

- Até que enfim você resolveu at... – Ricardo responde usando toda a coragem armazenada sem dar tempo de Andréia terminar a frase.

- Escuta aqui Andréia, eu preciso te falar uma coisa, viu? EU NÃO SOU GAY, sou homem, muito homem, macho mesmo, lá de Pelotas e...

- Ah... O quê você tá falando Ricardo, tá louco?

Ricardo sem êxitar, desligou o telefone como um verdadeiro homem que era.

Andréia sem entender a terrível situação de Ricardo tirou suas próprias conclusões e pensou: "A minha desconfiança se confirmou, ele era GAY!"

Essas coisas são realmente difíceis de explicar, mas eu ainda achava melhor Ricardo ter falado simplesmente que não rolava uma “química” entre eles...

Ulisflávio Evangelista
Enviado por Ulisflávio Evangelista em 08/02/2006
Reeditado em 17/09/2007
Código do texto: T109555