Uma crônica sem palavras
Ao meu redor tudo é silêncio. Apenas meu coração geme, grita e pede socorro. Sentado à mesa, tento escrever as primeiras palavras da minha crônica. Mas hoje, penso que não haverá crônica, não haverá nada.
Perdido nas poucas palavras que se libertam no papel, levanto-me frustrado. E, possuído por uma melancolia que nasce e morre dentro de mim, abro a janela para contemplar a solidão urbana. Não, a cidade não me anima, ela é sim refúgio do meu próprio tédio. Prefiro olhar para o céu, esquadrinhar as poucas estrelas que faíscam a esperança que já não possuo.
Como eu gostaria de escrever uma alegre crônica, mas a insatisfação me domina. De fato isso é bom, a dor também nos alivia, ela é a única forma de avivar a alma.
Alma, para escrever é preciso ter alma, contudo estou tão cansado e meu pensamento já não consegue flutuar como as nuvens que vejo no céu.
A cada momento me sinto sozinho, as palavras me abandonaram, não me resta muito tempo, não tenho forças para escrever. O mundo gira lá fora, eu o vejo através dessa janela aberta para mim. Na verdade, eu poderia escrever uma crônica intitulada “o mundo”mas não, prefiro continuar a observar a cidade e as suas dores. Se as palavras não me cercam, deixarei o tempo levá-las para outro lugar. E, eu continuarei aqui, debruçado sobre o peitoril da janela, ouvindo os roncos longínquos dos carros, olhando para os aviões que atravessam o infinito horizonte e sentindo na face o toque lúgubre do vento...