AMIGUINHOS...

Por Ulisflávio Evangelista

Mais um final de semana se aproxima e Roberta novamente na tentativa de reunir alguns de seus amigos de infância, pois das tentativas passadas sempre havia algum inconveniente, destes contratempos manjados mesmos, o sujeito não tinha nem a boa vontade de arranjar uma desculpa a altura. Roberta já conhecedora de toda e qualquer desculpa esfarrapada, tinha todas e mais uma resposta na ponta da língua, queria com todas as forças reunir a turma para festejar, comemorar. O grande problema - se é que podemos dizer haver um - é que não tinha nenhum motivo especial, quando seus “convidados” a questionavam:

- Qual a celebração?

Após uns trinta e dois segundos de silêncio e com uma voz baixa, quase um sussurro ela respondia...

- Ah, nada de especial...apenas para rever as velhas amizades mesmo!

Roberta trabalha em um grande escritório de advocacia localizado no centro da cidade – Coutinho e Filho Associados – escritório fundando por seu avô e seu tio avô no início do século passado, que com o passar dos anos de Coutinho e Filho quase não resta um para justificar o nome – salvo a própria Roberta que ainda trabalha lá –, se trata mais de uma grande mistura de sobrenomes, destes até impronunciáveis, uma verdadeira torre de babel.

Roberta ainda em pleno expediente da sexta-feira – na verdade a firma não estava com tantos clientes assim - Roberta mesmo, estava sem nenhum e além do mais, nas sextas-feiras assim como nas segundas-feiras, não há expediente em canto nenhum - começava a confirmar a presença de cada um, seja via telefone, e-mail, messanger, orkut ou sinal de fumaça mesmo, deste final de semana não poderia passar...

É preciso dizer que a Roberta, como posso dizer para não ofendê-la é... Bom, ela já estava com uma certa idade e seus amigos da infância como conseqüência, também. Sabe-se que as responsabilidades na grande maioria das vezes cresce com o passar das primaveras, salvo algumas exceções. E falando em exceções, a Roberta se encaixava nelas.

Da sua lista de convidados – intitulada de “amiguinhos da infância” os tais amiguinhos na verdade já eram avós e avôs, alguns até – que me perdoem a expressão, já estavam com pelo menos um pé na cova – mas Roberta papuda como qualquer bom advogado – esqueci de mencionar que ela advoga muito bem apesar de estar sem clientes, o grande problema é a recessão econômica do País...– conseguiu convencer um a um do encontro, até mesmo os mais pra lá do que pra cá, que seria no salão de festas do seu prédio também localizado no centro, entre a Avenida Manoel Scaffi e a Rua Pedro Barbosa a partir das vinte e uma horas - apesar da grande revolta da maioria, que justificaram muito tarde este horário...

Tudo certo, convidados avisados, as comidas preparadas e postas à mesa, vinhos secos e tintos mantidos na temperatura ideal, garçons aguardando as suas últimas instruções... Só faltava uma coisa! Ela se preparar para o grande encontro...

Após um caprichoso e demorado banho quente - destes com mais de treze tipos de cremes e loções de banho - Roberta sai com uma toalha em volta ao corpo e outra em seu cabelo comprido e loiro, exalando uma mistura de odores agradabilíssimos. Escolhe o tipo e a cor da calcinha como se estivesse escolhendo o seu próprio destino, experimenta mais de quinze combinações de roupas e de forma inexplicável e repentina se entrega ao choro, como uma criancinha de cinco anos. Nesta altura do campeonato, alguns “amiguinhos” já estavam lhe esperando no salão...

Para surpresa de todos, Roberta escolhe o seu pijama verão com detalhes rosa, desce até o local combinado e sem deixar que seus “amiguinhos” a percebessem, pede a um dos garçons para continuar servindo as iguarias e avisar a todos de que ela estava indisposta, talvez fosse coisa da idade...

Ulisflávio Evangelista
Enviado por Ulisflávio Evangelista em 09/02/2006
Reeditado em 17/09/2007
Código do texto: T109947