MEU ALGOZ, MEU SEDUTOR

Hoje estou vivendo mais um dia sem ele, resolvi deixá-lo definitivamente, espero que dessa vez, seja pra sempre. Já estou ficando velho e não vale a pena ficar sofrendo tanto por quem não merece, nessa vida tudo se cansa e eu cansei de sofrer por causa dele.

Tão magrinho, tão pequeno e tão poderoso! esse maldito que eu amo e odeio, já foi motivação de tantas brigas entre tapas e beijos; já queimou a minha roupa, o meu corpo e mesmo assim, ainda exerce um poder de sedução sobre mim que até parecia impossível deixá-lo, assim.

Às vezes tentei ignorá-lo, não fiz contato, saí sozinho, fui às ruas, às festas, mas logo batia a solidão e o desespero de estar desacompanhado e ficava muito mal e aí eu me lembrava de quantas vezes saí a sua procura e quando o via, saia correndo ao seu encontro e sempre lhe pegava de jeito, em nome do meu prazer desenfreado , só assim meu corpo relaxava junto dele.

Ninguém me dava tanta satisfação assim, o nosso caso parecia não ter limites, já o deixei várias vezes, mas a lembrança do seu cheiro, do seu toque em meus lábios!? É como se fosse juras de amor eterno, e essa convivência sempre me trazia de volta ao calor de suas partes.

Ainda me lembro do dia em que fomos apresentados, no primeiro contato que tivemos não senti nada por ele, não foi amor à primeira vista, mas depois ele foi se aproximando através dos meus amigos e acabamos desse jeito.

Confesso que tenho vergonha de meus familiares, que nunca aprovaram o meu relacionamento com ele. Sei que nunca foste bem-vindo à minha casa, sentiam-se também prejudicados, chegavam a dizer que ele cheirava mal, que tinha odor desagradável, eu sei, mas pra mim, ele era e ainda é muito cheiroso, ele continua impregnado em minhas vísceras.

As lembranças são muito fortes, é como se eu ainda sentisse a sua essência dentro do meu peito, me atordoando de tanto prazer, é muito difícil aceitar a sua ausência.

Só que não dá mais, estou saindo enquanto há tempo, como pude viver essa relação indigesta! Doentia!, com alguém que estava me matando aos poucos? Mas o que fazer? A vida é assim! A gente vive, a gente morre, em nome de supostos prazeres.

Felizmente, já faz tempo que não o vejo, estou esquecendo o seu gosto, mas sei que ainda sou dependente do meu algoz, dessa coisa nojenta, desse pequeno príncipe, magrinho, vestido de roupa branca e que quando éramos amigos e estava comigo, adorava vê-lo aceso, envolto a fumaça que não sacia, mas parecia dar-me a satisfação plena, eis a razão das minhas sucessivas recaídas.