Fim do trecho.

Ainda me lebro bem de quando éramos jovens e você desde cedo começou a enganar as pessoas.

Você só pensava em levar vantagem, nunca estudava, apenas colava descaradamente na escola.

Quando não conseguiu mais colar, abandonou os estudos; contudo nunca criou disposição para o trabalho, seu negócio era aplicar seus golpes nos desavisados.

Vendia mercadorias de procedência duvidosa, comprava dinheiro falso e repassava, pedia dinheiro e não pagava; e quando emprestava um valor para alguém, praticava usura.

Tirava sarro de quem trabalhava, e vivia dizendo que enquanto você estava viajando para a praia, eu estava naquele computador, num escritório de contabilidade, processando Declarações de I.R para bacanas; que no Carnaval, você voava para Salvador e eu estava nas filas dos bancos, com o malote recheado de guias e com o bolso cheio de dinheiro dos outros, e que a contrário de você, nunca consegui colocar a mão.

Vou dizer a verdade Eu até o invejava, principalmente quando você aparecia dirigindo um Gol GTI ou um Vectra, e também quando você chegava pilotando a Yamaha Téneré, a Honda 750 ou a Kawasaki Ninja, ostentando suas correntes de ouro maciço e seus perfumes e roupas de grife francesa. Pensando bem, não invejava, mas sim, pensava em trabalhar e um dia ter igual.

Mas era sempre assim, comigo constantemente rejeitando convites para Festas, Baladas, Puteiros e até para fazer uma "fita", uma jogada que rendesse mais que meu 1,5 salário mínimo que não havia de durar nem até chegar o segundo bar por onde você passou...

As namoradas então, nem se fala, você sempre estava com as mais cobiçadas, as mais formosas, falantes e sorridentes belezas que o dinheiro podia atrair.

Ainda me lembro dos meus pais desconfiando de tanta riqueza para um garoto classe média sem estudo e que viajava por meses e depois retornava montado na grana e que não trabalhava nem por decreto, e ainda sim, presenteava os garçons com gorjetas mais altas do que o valor que meu pai ganhava por dia, dirigindo um táxi.

Hoje, não se ouve mais o ronco da 750, nem o som potente dos carrões ou o tilintar das correntes no seu pescoço.

Você não voltou...só chegou a notícia, doze tiros do peito pra cima, uma face desfigurada.

Uns dizem que foi a polícia, outros que foram bandidos. Mas a maioria diz que os sujeitos se fundem na mesma organização da qual você fez parte e não cumpriu as metas.

Fazem treze anos, você ainda tinha vinte e dois em uma triste trajetória. E o trecho que o levou até o precoce fim continua lá, aqui, ali, acolá, atraindo jovens que preferem tomar dos outros do que conquistar o próprio; que são amaldiçoados pelas mães que choram pelo vício dos filhos; que sequestram pessoas inocentes, buscando a vantagem financeira, que viram as costas para Deus e seguem os caminhos dos homens violentos.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 31/07/2008
Código do texto: T1106340
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