CRÔNICA DE UM FIM DE OUTONO

Foi há poucos dias que ao fazer um já velho e conhecido percurso das minhas andanças que percebi o término do verão. O jardim de uma das belas casas que costumo admirar estava tomado por cadeiras e espreguiçadeiras repletas de coloridos casacos que absorviam os raios solares da nova estação.

A longa avenida que costumo percorrer leva até a praça principal da cidade onde em dias mais preguiçosos costumo sentar e observar a vida passar.

O outono é mágico.

Eu o elegi como a estação do amor, por que como a estação da reflexão já por muitos fora eleito.

Um tapete de folhas secas forra um eternal caminho por onde um casal de namorados passeia de mãos dadas. Duas criaturas atemporais, geradas num fim de tarde numa sempiterna adolescência.

E assim, no meu imaginário romântico o amor acontece.

Perder os olhos ao observar o poente avermelhando a paisagem que se prepara para o recolhimento faz a mente transmutar para outonais reflexões.

O outono da vida, o ocaso, a ponderação dos dias.

Crepúsculos se perdem entre equinócios e solstícios.

E entre quedas de flores e folhas o banco da praça torna-se gélido.

Mãos e braços se abraçam e a praça numa tarde mais adiante se encontra inóspita.

É chegada a hora de recolher-se.

Corpos solitários se aquecerão envoltos em belos edredons.

Lamentável é o fato que aos homens não foi dado o direito de hibernar como aos ursos.

Criaturas bem aventuradas aquelas. Rolam seus corpos sobre as folhas ainda mornas do outono e depois caminham mansamente para o recôndito de suas cavernas.

Não contam dias cinzentos passando por vidraças embaçadas.

Dormem o doce sono que lhes foi concedido e despertam nas suas alegres primaveras.

É notório que pouco me agrada na estação seguinte.

Talvez o bom e santo vinho que sempre aquece e alimenta os corações famintos.

E assim viverei o meu longo inverno.

Quem sabe como um bom urso errante, olhos despertos e coração hibernante.

Cherry Blossom