Você é livre?

Livre mesmo? Para fazer tudo o que quiser, a qualquer dia ou hora? Você não se sente preso a nada ou a ninguém, ou até mesmo alguma convenção? Não está nem aí para o que pensem ou falem de você? Será?

Nestes dois últimos dias, este estado de ser ou estar vem preenchendo meus pensamentos e desfilando sob os meus olhos.

Estou lendo um romance e em dada hora o personagem se vê questionando a sua liberdade que segundo ele fora tão dificilmente conquistada.

Ao abrir o jornal, deparo com uma crônica com o título - Viva a Liberdade! O escritor fala da censura à imprensa que vem se apresentando neste início de 2006.Menciona as concessões feitas pelo Google (o maior site de busca da internet) para poder “entrar” na China; comenta as manifestações violentas que vem ocorrendo na Europa pelos radicais islâmicos por causa das caricaturas dinamarquesas do profeta Maomé e termina a crônica com um alerta ou uma profecia apocalíptica: se não cuidarmos, não ficarmos atentos, teremos no ar o cheiro das fogueiras e o ranger das masmorras da Inquisição e o retorno do fantasma da Censura.

E então eu retomo a questão inicial: você é livre? E mais, eu quero saber: fala da tua liberdade?

Frente a tudo isso não dá para não pensar. Agora mesmo estou presa às palavras para tentar explicar justamente a liberdade.

Diariamente estamos presos a uma rotina. É o trabalho, é o estudo, a ginástica, terapia. São os compromissos com os outros e com você mesmo. Relacionamentos. Você e o/a outro/a, família, parentes, amigos. Sentimentos: saudade, fidelidade, ciúmes. Tudo te prende.

Sua vida é pública. Todos sabem tudo ou quase tudo de você. O banco sabe das suas finanças. Nas empresas o mesmo ocorre. Até o porteiro do teu prédio sabe de você, teus horários e com alguma propriedade sabe falar da sua vida pessoal, quem freqüenta sua casa, seus amigos e parentes.

Por isso acredito que o verbo estar é o melhor para ser usado com a palavra liberdade. Está-se livre, não se é livre. Está-se livre para escolher se o doce é melhor que o salgado; para decidir se o banho será quente ou frio, se ouve música ou se fica no silêncio, ou se atende ao telefone que toca ou se ouve a mensagem depois na secretária eletrônica, ou isso ou aquilo.

E por aí vai. Eu estou livre (= me sinto à vontade) para encerrar este questionamento.Quanto a você, fica a possibilidade de não se importar com nada isso. Afinal, você não é livre?

Wanda Recker
Enviado por Wanda Recker em 12/02/2006
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