Meu Chefe Hipocondríaco

Entro em casa, minha mulher esta passando roupa (que coisa machista), mas a secretária doméstica foi mandada embora e logo alguém tem de fazer o trabalho doméstico.

Chego com cara de poucos amigos, falo um oi seco, sem beijos e nada.

Vou ao banheiro, tomar um banho, mas antes de sair minha mulher me pergunta se esta tudo bem.

Com voz alterada, alias, gritando digo que esta uma merda, pois além do cartão de crédito estar explodido, tenho uma porra de um patrão hipocondríaco.

Se em algum momento, raros, sua hipocondria me vale alguma coisa, o restante me da nos nervos. Mas como vou mandar ele se “foder”, se empregado meu cartão esta no espaço, imagina desempregado, já estaria preso.

Outro dia precisava ir ao médico, marquei consulta, mas precisaria faltar no trabalho e fui até meu chefe (hipocondríaco) avisar e pedir-lhe.

Aí as coisas ficam difíceis, pois num simples pedido ele quer saber o que tenho, que médico vou, onde é, qual especialidade.

Digo que há tempos venho tendo dores de cabeça e que vou num neurologista primeiro. O meu chefe responde imediatamente com os olhos esbugalhados e as pupilas dilatadas, que já tinha tido os mesmo sintomas, e que foi num médico, mas o achou um charlatão, pois não lhe deu nenhum remédio.

Então o chefe segura pelo meu braço, abre sua gaveta e num livrinho caseiro feito por ele, abre em minha frente, que contém várias bulas de remédio. Abre a bula de um remédio, gardenal, faixa preta, pretíssima e me diz: ‘TOMA de oito em oito horas”, e novamente sinto quase paupável o frisson em seus lábios e na sua pele.

Fico a olhar seu semblante, quase de gozo, mas o pior ainda estaria por vir, abre outra gaveta, são exatamente 9 horas da manhã, e de lá pega uma caixa de gardenal e me da um comprimido e um copo d´água e diz: “TOMA”. Porém, não se contenta com este estado orgástico e emenda: às 17 horas tem outro, pode deixar te lembrarei.

Fico olhando seu rosto impassível esperando que coloque aquela droga goela abaixo, coisa que faço com enorme dificuldade, mas penso em meu emprego e que aconteceria se recusasse.

Além do mais ele sofre de problemas intestinais, não flatulências, mas intestino preso, fica às vezes uma semana sem ir ao banheiro.

Você pode imaginar um chefe que não caga. Aliás, você já percebeu as pessoas que sofrem deste mal, como são irritados e mal humorados e lembro de uma passagem do livro Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel Garcia Marques, que diz: “o mundo é divido em dois tipos de pessoas: os que defecam e os que não”.

Outro dia fiquei sabendo de uma história passada por ele, e que é seu calcanhar de Aquiles, pois antigos conhecidos, ele não tem amigos, vivem o lembrando da passagem.

Ele, meu chefe, dividia com outro conhecido um apartamento. O conhecido dele era do interior e viajava de finais de semana para visitar a família, principalmente a mãe.

A mãe deste sempre fazia um preparado com arnica (um erva) aprendido com a avó, embebida no álcool e deixava por meses para compressas em lesões mais leves, como hematomas.

O meu chefe assistindo televisão ouviu que uma gripe viária na china poderia chegar ao Brasil por volta de 30 dias. Ao retornar pra casa o colega o encontrou enrolado em vários cobertores, com toca e tremendo, era dezembro pleno verão, e dizia que poderia estar com uma gripe da china.

O amigo conhecendo sua hipocondria não ligou, mas antes de sair meu chefe curioso com o vidro que o colega carregava perguntou o que era aquele vidro com líquido verde.

Ele disse que era um santo remédio feito por sua mãe, aprendido com sua bisavó e vai embora.

O colega vai ao cinema e antes se despede e sai de casa deixando meu chefe com sua gripe da china. O chefe sem pestanejar vai até a cozinha pega o remédio milagroso de arnica embebido no álcool e toma um copo cheio. No outro dia levanta sem gripe sem nada e vem trabalhar até a próxima gripe da china.

Marcos Barbosa
Enviado por Marcos Barbosa em 04/08/2008
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