Perguntas....

Ligo o motor automático. É assim que me sinto ao acordar; parece que todas as minhas atitudes do dia estão previamente marcadas, e nada pode sair do scritp. Levanto, vou ao banheiro, lavo o rosto, escovo os dentes, urino, lavo as mãos. Dirijo-me à cozinha, onde bebo um gole de café, dou uma breve olhada no jornal do dia e volto para o banheiro: hora de tomar banho e vestir-me correndo para sair para o trabalho.

O caminho de casa para o trabalho é feito em um ônibus superlotado, dividindo pequenos espaços com miríades de corpos de trabalhadores suados (já aquela hora da manhã), que se acotovelam para seus compromissos diários (que são absurdos, mas que garantem o pagamento das contas e o leite das crianças). O dia passa na repartição, marcado pela burocracia improdutiva do aparelho estatal e pelas relações falsas e superficiais com os colegas de trabalho. São horas que se arrastam, momentos pesados e ao mesmo tempo fúteis. É grande a disputa por quem é mais subserviente e fiel aos preceitos do "bom funcionário público". O prêmio? Algumas migalhas a mais no contracheque no final do mês.

18h. Fim de expediente. Hora de voltar para casa, enfrentar novamente coletivos lotados, engarrafamentos quilométricos, a briga para viajar sentado no ônibus, o calor, a enxaqueca, etc. Ao chegar em casa dirijo-me ao banheiro, tomo um banho; é hora de jantar, assistir ao telejornal da noite e a novela, cochilando na cadeira da sala até a hora de ir deitar com torcicolo, provocado pelas sonecas em posições desconfortáveis na poltrona. Amanhã é outro dia. É dia de acordar, tomar café, ir ao banheiro, enfrentar ônibus lotados, relações frívolas no trabalho etc.

Há modos diferentes de ser viver a vida? Alternativas a rotinas estafantes que parecem se distanciar do real significado de estar vivo? E o que é viver? Alguns dirão que é apenas respiração e batimentos cardíacos; outros buscarão respostas mais complexas para esta pergunta.

Vivo, trabalho. Cumpro com meus desígnios sociais e familiares. Deus está satisfeito comigo. A sociedade está satisfeita comigo. Fiz o que tinha que fazer para dar continuidade a esse projeto fantástico que é a humanidade. E por que me angustio? E por que faltam respostas que satisfaçam e sobram perguntas que inquietam?

Não vou me dar por satisfeito por tão pouco. Há mais para viver! Viver é mais! Entretanto, na falta de clareza e no turbilhão de tantas respostas vagas e imprecisas e perguntas inquietantes e angustiantes; nos inúmeros cruzamentos de vias que caracterizam a vida... Fiquei absorto e boquiaberto com a vastidão de possibilidades que é o ser humano. Sou mais, sou menos. Sou pessoa que se forja no dia-a-dia. Tenho perguntas que vou levar comigo para sempre, até calar-me definitivamente. Não acabei, ainda não acabou. Ainda respiro. E não é só isso. Ainda pergunto. Por favor, não me respondam...

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 06/08/2008
Reeditado em 05/05/2009
Código do texto: T1115698
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