Constrangimentos do Recife

Parar em um semáforo de um cruzamento qualquer no Recife: eis uma experiência assustadora, constrangedora. Todo tipo de abordagem sofre o motorista ao ter que obedecer ao sinal vermelho de "pare". São adolescentes correndo, distribuindo saquinhos de balas nos retrovisores dos veículos; pedintes das mais variadas espécies: aleijões, criancinhas, mulheres grávidas, cheira-colas, idosos. Entregadores de panfletos também são presenças constantes nesses locais. Propaganda de tudo: peças para veículos, cursinhos pré-vestibulares, planos de saúde etc. Sem falar nos assaltos, nas balas perdidas, assaltantes mirins entorpecidos pelo crack, armados de cacos de vidro, estilete e armas de fogo. Quantas vidas não já se perderam nos semáforos?

O poder público parece não ter nada a fazer para combater esse show de horrores que se transformaram os arredores de qualquer semáforo no Centro e principais corredores do Recife. Aliás, não só nesse particular, como em tantos outros, percebe-se uma total omissão dos poderes públicos. Sejam nas praias, quando pessoas passeiam com cães e cavalos, carros estacionados com as portas abertas e músicas de qualidade duvidosa são executadas em volumes elevadíssimos.

Nos pagodes de subúrbios, onde adolescentes se entorpecem de álcool e outras coisas mais, ao som de pagodes sexistas e danças que são simulações de atos sexuais. Nas crianças e pedintes que perambulam pelas ruas do Centro, mendigando e fazendo pequenos assaltos. Em todos esses casos existem organismos públicos que deveriam agir no sentido de fiscalizar e resolver tais problemas, mas nada fazem.

A propósito, é bem verdade que já estamos em 2008, mas não custa lembrar o dia 24/12/07 nas principais ruas e avenidas do Recife: mulheres grávidas cercadas de crianças, pedintes de todas as espécies pedindo esmolas nos semáforos (de novo eles), em um espetáculo deprimente de descaso e miséria. A cada esquina e cruzamento em que passava naquele dia, e diante da barbárie que via, perguntava-me onde estava o Conselho Tutelar, e para que mesmo ele serve.

O mais triste de todo esse absurdo é que toda sorte de miséria com as quais nos deparamos parece não ter solução. Pergunto-me como podem os homens públicos, políticos e governantes aparecerem na televisão sorrindo e repetindo chavões, tais como "A grande obra é cuidar das pessoas"? Definitivamente esses senhores vivem em outros Brasis. Lá o clima é sempre ameno (ar-condicionado perfeito de seus gabinetes), a segurança é sempre reforçada por blindagens e profissionais treinados, anda-se de jatinhos e nunca se é incomodado por um pedinte, engraxate ou vendedor de CDs e DVDs piratas, enquanto se tenta almoçar um cachorro-quente de um real, sob o calor escaldante de meio-dia, em uma avenida como a Conde da Boa Vista...

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 06/08/2008
Reeditado em 13/10/2010
Código do texto: T1115705
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