A quem interessar possa

Há quanto tempo tento não consigo escrever para vocês que eram apenas dois e, agora, são quatro. Venho adiando dia a dia e chego a me culpar por isso! À noite, com ar decidido, penso em fazê-lo, pois já tenho o texto inteiramente elaborado na mente. Clareia. As supostas frases desaparecem! Simplesmente não as (re)faço.

Decidi, portanto. Mas não sei ainda como começar... Nunca pensei em escrever-lhes uma carta antes... Estão tão distantes! Por que será que a gente só pensa em quem está longe? E vocês parecem, irremediavelmente, distantes...

Não sei como posso dizer o quanto sinto falta!

Dois partiram quase juntos. A dor profunda foi em dobro. Foi?! O que estou escrevendo, santo Deus?! Ainda é! Lembro dolorosos sofrimentos, momentos pelos quais passaram... Às vezes, sinto seu cheiro, meu amiguinho. Será que é um sinal de que está de novo próximo a mim? Creio que vem me ver para mostrar que pode estar presente.

E você, cuja fisionomia tranqüila não me sai da memória, dentro daquela pomposa caixa? Estaria mesmo inerte? Poderia ver ou saber nosso sofrimento?

Por um tempo pensei que estava me recuperando... Como se tal estado fosse inteiramente possível! Então, inesperadamente, você também nos deixou. Terceira angústia. Subitamente, mais que de repente; sem avisar ninguém.

Um novo ano começou. A gente renova a esperança, uma dama velha amargurada pelo que a vida lhe tira. Então, pela quarta vez aconteceu! Você pediu para ir embora e, o pior, alguém lá em cima escutou. Atendeu-lhe e levou-o! Por quê? Qual a razão? E como a gente fica? Ou, por que só a gente fica?

Não dá para esquecer. Nem para acreditar que tudo tenha acontecido de fato. Vem à memória todas as noites ou em alguma hora do dia. Sinto cheiros e revejo cenas. Vocês parecem, ainda, presentes. Capazes de ressurgirem a qualquer momento de trás de uma porta, saindo de um carro. Dói tanto...

Onde estão agora? Vêem-me neste exato momento em que tento dizer-lhes o quanto fazem falta a todos? Estão juntos, sofrendo por nós? O que acontece aí, todos os dias, enquanto, por aqui, continuamos lutando pela sobrevivência? É tudo em vão? Vale a pena continuarmos?

Sinto uma imensa vontade de chorar e pedir que voltem. Mas a racionalidade grita dentro de mim; sei que não depende mais de vocês... Três nem escolheram ir...

Vou continuar a recordar... Saibam disso! Estão perto de mim; dois ao menos eu tenho certeza... Pressinto-os em diversos momentos.

Não sei se todos ouvirão, porém quero que tenham a certeza: amei vocês. Escrevo para e por vocês, amando-os.