Laços de Família

Seu Quezado esquentava a água no bule, o vapor esquentava a mão de seu Quezado, aquelas mãos rugosas e calosas que há tanto trabalham... A janela sob a pia mostrava a Seu Quezado uma linda paisagem de campina, a chuva recém caída deixava o dia cinza e o cheiro de mato molhado pairava pelo ar, podia ver até uma borboleta ali, outra cá. Seu Quezado escolhe lentamente as xícaras, uma colorida, outra branca e sem graça, outra com desenhos em azul, outra com desenhos lilás, seu Quezado corria os olhos pelo armário perguntando a si mesmo qual xícara escolheria para aquele chá quente recém feito.

A fumaça saia da xícara como saia de uma chaminé. Seu Quezado tomava aos pingos para não queimar os lábios, e lentamente fazia sua tarde triste e solitária. Ao fim de sua vida (já aos oitenta e cinco anos) a única coisa que tinha era sua fazendinha modesta e sua vida modesta. Seu Quezado observava a campina que cobria tudo, observava as arvores que começara a morrer naquele inicio de outono, logo, será inverno e os campos estarão frios e sem vida. O cheiro do campo era notável, logo, começara a chuviscar novamente, seu Quezado afastou alguns centímetros sua cadeira de balanço para trás, sentiu suas costas doerem, já não podia fazer muitos esforços, seu Quezado viu o dia lentamente morrer e a noite lentamente nascer.

As luzes fracas naquela cabana mostravam a madeira presa e o cheiro de noite. A comida recém feita fumegava no prato solitário a mesa em frente a uma grande janela, ao lado estava seu Quezado sentado em seu sofá olhando para a mesma janela... A comida continuou imaculada até as primeiras horas da manha quando entraram alguns gatos e a comeram... Seu Quezado a muito já dormira.

A chuva tinha limpado o puro ar do campo, seu Quezado estava como o dia anterior, e o dia passado, o os dias que já foram, e os dias além desse... Sentado em sua cadeira de balanço tomando seu chá observando o outono matar o que restara da natureza jogando suas folhas no chão, despindo as arvores para o frio. Ao longe via-se um pedaço da cidade grande avançando lentamente ao quintal de Seu Quezado: Um carro preto com vidros fechados manobrando lentamente pela lama. As portas se abrem, descem duas crianças correndo e gritando: “Vovô! Vovô!” elas correm e abraçam o velho Quezado que ri um pouco sem jeito. Logo após desce uma mulher média, com seus cabelos louros médios e seus olhos penetrantes sem alguma cor memorável, seu batom com ar de sem-graça se ajunta no seu sorriso e de sua boca saem as palavras frias, mas com um certo amor: “como vai papai?”

Do outro lado sai um rapaz, injugavelmente velho ou menos novo, no meio termo de tudo, alto, cabelos negros como seu carro, trajando algo parecido com um terno, óculos de grau e um sorriso controlado, mas sincero... “Como vai Sr Quezado?”

O velho levanta-se de sua cadeira ainda com um sorriso que não significaria felicidade, mas um sorriso, as crianças abraçam suas pernas e o velho anda com dificuldade, os adultos abraçam.

- Como o senhor anda? – diz a filha com a voz de uma recepcionista de hospital.

- Bem minha filha, bem - Seu Quezado faz uma pausa – se tivesse avisado teria feito mais chá.

A pequena família ali é convidada a entrar, eles não aceitam, falam que será rápido.

- Seu Quezado, queremos falar com o senhor – diz o homem-rapaz com um ar simpático – temos uma proposta...

A chuva fina começara a cair e sujar o carro com ar puro, as crianças brincavam com um gato chamado Napoleão, gato preto e manhoso não saia da cabana por nada deste mundo. Seu Quezado , sua filha e seu genro que tinha uma gozado rosto de duvida, do qual sempre carregou a vida toda este tal rosto mantinham se sentados em uma mesinha na varanda, a loura mulher tinha um olhar doce e frio, brincava com um pouco de água que a chuva deixara na mesa, seu Quezado olhava perdido aos campos, e seu genro abrira uma pasta com alguns papéis.

- Papai, trouxe-lhe uma proposta que o senhor irá adorar! - diz a filha de Seu Quezado ainda molhando a ponta dos dedos esmaltados de vermelho

- O senhor já está ficando velho, e precisa de cuidados melhores do que estar aqui sozinho – diz o genro com seus cabelos negros e brilhantes repletos de gel ou outro produto capilar. Seu Quezado olha com o canto dos olhos para ele desviando seu olhar para o campo, como se entendesse que em outras palavras aquele JOVEM moço lhe dissera que ele morrerá em breve.

- Papai, conseguimos uma estalagem num recanto, é maravilhoso! Tem piscinas, quadras, área de lazer, várias pessoas da sua mesma idade – diz a filha de Quezado com uma excitação imensa. Seu Quezado pega o folheto de tal lugar, olha com seus olhos perdidos como os de um menino sonhador, coloca o folheto na mesa do qual as pontas tocam a água que sua filha mexia, olha lentamente nos olhos dos dois que mantinham um silencio, e com uma pausa fala:

- Querem me mandar a um asilo?

- Não é um asilo papai...

- Então o que é? Uma creche? – o genro teria sorrido se sua mulher não lhe batesse com o cotovelo no estomago o fazendo sentir como é ruim uma pancada em tal lugar.

- Papai, estamos pensando em seu bem, alias, aqui é muito sozinho, muito distante, e lá podemos visitar-lo sempre.

- Filha, quando você nasceu, logo decidimos um nome para você, eu e sua mãe procuramos algo forte pois você era uma garotinha forte. Cresceu, estudou, se tornou realizada, casou com um bom homem, deu-me dois lindos netos, tem uma casa, tem comida, tem um emprego e dá a mesma educação que lhe dei aos teus filhos. Agora filha, digo-lhe, perdeu-se em tudo isto, era notável como transformava as coisas pequenas em grandes coisas, como tinha vivazes, como conseguia transformar o triste no alegre, agora filha, onde está este lado em você?

- È que eu cresci papai – diz ela tentando passar alegria, mas infelizmente como o velho disse, ela perdera este dom.

- È filha, você cresceu – diz o velho tristemente perdendo se novamente na paisagem do campo – e o que você farão a esta casa?

- Estávamos pensando em vender-la papai, para dar-lhe melhor condição de vida...

- Filha, envelheci, isto é notável, todos podemos notar que estou velho não é? – Seu Quezado olhava interrogativo para seu genro que ao receber o olhar fez um sim com a cabeça demasiados sem jeito – mas ainda não fiquei gagá, sei o que irão fazer com este dinheiro, e agora sei o por que querem me jogar em um asilo.

- Mas não é um asilo Seu Quezado – diz o genro mas para de falar depois de receber um furioso “cale-se” do velho.

- Sei o que querem, sei por que saíram de sua casa quentinha no miolo daquele cidade fumacenta para pertubar minha calma, agora sei o que é e sei do que se trata, felizmente, minha resposta é não.

- Mas papai... – dizia com certo desespero a filha de Seu Quezado.

- Tenho dito, agora por favor peço que se retirem pois estou já sou um velho cansado e necessito descansar.

Os dois levantaram-se com certa “brutez”, Seu Quezado permaneceu sentado agora brincando com os respingos que sua filha também brincou. Seu Quezado os viu se afastar em direção ao carro, sua filha que agora também tinha filhos os chamou que ao choro de um já mãe deixavam o gato Napoleão em paz. a loura mulher olhara pela ultima vez a Seu Quezado e falara:

- A proposta ainda está de pé.

- Filha, perderas o sentido da vida... Ela não é o que você põem nos bolsos – com isso Seu Quezado levantou-se e caminhou lentamente a porta de sua casa apenas dando um aceno para as crianças. Sua filha agora entrava no carro muda e pedira para o seu marido dar-lhe a partida pois estava com enxaqueca.

Seu Quezado morrerá três dias depois, seu enterro fora ao mesmo lugar que sua esposa fora enterrada, bem ao lado de seu tumulo, sua filha ficara triste e sua cabana fora vendida assim mesmo.