ORGULHO: IMPEDIU-ME DE PEDIR PERDÃO AO MEU PAI!

Orgulho: Não vale a pena senti-lo!

Era manhã de sábado e aquele dia era especial já que quase todos os irmãos foram reunidos para uma visita ao nosso pai, ele que há mais de quinze anos havia saído de casa para morar e viver noutra cidade. Devidos a algumas diferenças entre ele e o filho mais velho, então ele optou por sair de casa e começar uma nova vida longe de tudo e todos, deixando para trás uma vida da qual ele desejava esquecer.

Este será um relato verídico onde pretendo ser o mais imparcial possível nele há erros de todas as partes, não há um culpado, mas muitos, afinal estarei falando de uma família e em famílias há diferenças e sem diálogo não há reconciliação. Assim é a convivência entre familiares, não há como conviver no dia-a-dia sem uma ou outra discussão, ou mais, brigas que perduram por uma vida, o que aprendi ser um desperdício de tempo e afeto.

Eu que há treze anos havia passado por uma enorme experiência de vida estava mais amadurecido, mais compreensivo, tolerante e mais transigente, mais humano, o que era bom.

Percorremos uns cinqüenta quilômetros até a cidade onde ele morava. A paisagem estava seca, quase desértica, há mais de dois meses não chovia, portanto a estrada de terra batida era só poeira e as suas margens tudo completamente seco. Ao chegarmos àquela cidade nos deparamos com um futuro desperdiçado, momentos de alegria que poderíamos ter compartilhado e não o fizemos e talvez não faríamos nunca mais. Meu pai que havia passado por uma desobstrução de uma veia na perna para melhorar a circulação sanguínea em seu corpo e não sobrecarregar seu coração não estava bem, mas ao nos ver abriu um sorriso de canto a canto, claro que devido o que vinha passando nos últimos meses não nos reconheceu de imediato, estava tristemente debilitado.

Eu que pude conviver com ele durante minha infância conheci seus dois lados, um era homem que sóbrio era alegre e bem humorado e ás vezes surpreendemente generoso, mas quando bebia era um homem bruto, rude, frio e tristemente mesquinho, embora aos amigos não demonstrasse, pareia esconder aquele lado nada humano.

Mas naquele dia nada disso importava era apenas passado e todos nós estávamos dispostos a esquecê-lo, embora logicamente lembrássemos daqueles momentos sofridos. A cena que se seguiu foi algo emocionante, ele sentado numa cadeira forrada por um tapete tomava sol. Sua expressão ao ver-nos se aproximando continuava indiferente, era visível que não nos reconheceu até que me aproximei dele e somente quando o chamei de pai, enfim compreendeu de fato que era sua família que o visitava depois de quinze anos.

Filho a filho ia cumprimentando de forma respeitável com a costumeira benção, ele visivelmente contente e emocionado respondia, enquanto apertava a mão de cada um dos filhos. Depois de conversarmos longamente, rirmos como bons amigos e o caçula já com vinte e dois anos, um e oitenta e seis de altura, noventa quilos, casado e pai, ou seja, meu velho pai era avô pela nona vez, sendo que destes só conheceu dois netos, estes hoje com dezoito anos.

Passamos uma manhã maravilhosa e já fazíamos planos de regressar no mês seguinte ou assim que pudéssemos, já que minha existência acabava atrapalhando-os de saírem e até fazerem planos, pois era muito difícil para que eu pudesse acompanhá-los em viagens como aquela. No caminho e volta foi que percebemos quanto tempo perdemos por cultivar um sentimento chamado. Orgulho!