Porque eu me incomodo.

Eu leio porque não existe uma razão maior para isso.

Leio porque é vital para mim, porque faz com que minha miopia seja atenuada, suavizada.

Leio por medo da ignorância, de permanecer no escuro que é a ordinariedade do ser humano.

Contudo, ser não-ordinária não me faz feliz.

Porque eu me incomodo.

Eu me incomodo com o mundo, com as conversas vazias, com os pensamentos aleatórios, com a mesquinhez da falta de interesse.

Eu ouço, mas não escuto os outros. Vejo, mas não enxergo algo que me interessa verdadeiramente.

Eu apenas procuro ler, porque nas entrelinhas eu encontro a subjetividade daquilo que tenho ansiado e continuo sem entender.

Eu dou graças aos céus toda vez em que paro para pensar no quanto sou estúpida, burra mesmo.

Porque isso me incomoda. Enerva-me, me faz descontente.

A infelicidade nem sempre é ruim.

Assim como o seu oposto, é apenas um estado transitório. Tudo acaba passando: momentos que se sucedem infinitamente.

Eu me frustro porque na maioria das vezes não compreendo as coisas que leio, que vejo, que ouço, que sinto.

Dizem que frustrar-se é bom, porque o desamparo que a ignorância nos traz impulsiona-nos em busca de um sentido.

Mas talvez o tal "sentido" não exista - as vozes sussurram, cruéis, quando acabo por quedar-me irritada diante deste tipo de pensamento.

Porque isso não passa, nunca passa.

E isso me incomoda.