TUDO NA HORA CERTA

TUDO NA HORA CERTA

Aprendemos desde que começamos a nos entender como gente, que tudo tem sua hora. Hora de mamar, de acordar, de comer, de dormir. Hora de tomar banho, hora de ir para escola, hora de fazer o dever. Certamente a disciplina é algo que devemos ter para que a nossa vida ande dentro de um certo padrão sociável ou pelo menos que se adapte à generalidade. Seria uma luta insana mudar os horários de tudo por uma necessidade particular. Isso faz parte de aprender a conviver em sociedade, com pessoas que fazem as mesmas coisas de maneira diferente ainda que seja na mesma hora. Aprendemos a conviver com individualidades, com algo em comum.

Só que com isso, aprendemos também que se o normal é determinada postura, quando algo nos acontece de maneira inesperada, não estamos preparados para lidar com a nova situação. Por exemplo, por toda a vida o almoço foi servido ao meio-dia e temos até as duas horas da tarde para desfrutá-lo, assim é para quem trabalha fora. Caso o almoço atrase, já começamos a nos preocupar por vermos o nosso tempo de descanso diminuir, pois nessa espera nosso estado é de ansiedade e não de descanso, causando-nos inclusive desconforto e até irritação. Sair da normalidade é inconveniente para nós. Todos esses hábitos se incorporam a nossa personalidade e passam a fazer parte integrante de nosso comportamento e consequentemente irá afetar a forma como nos relacionamos com as pessoas.

Frequentemente vivemos momentos em que justificamos nossa dificuldade em tomar decisões, por ter nos acontecido determinado fato na hora errada. Filhos podem ser teoricamente planejados. Provavelmente não o dia exato, a não ser que seja uma cesariana. O sexo do bebê pode ser “escolhido” através de métodos científicos com dados calculados a partir do período ovulatório; temperatura corporal; dosagem de hormônios; plano astral e até a influência da lua. Às vezes funciona... Às vezes não é bem assim. O universo tem um plano próprio sob o qual não temos domínio algum. Mas quando funciona; os pais esperam que seja uma menininha fofinha, que cresça gostando de cor-de-rosa, brincar de boneca, estude com dedicação, que tenha trejeitos femininos e traços delicados. De um menino, se espera que seja encorpado, assim as mães podem se orgulhar de compará-lo com outros da mesma idade, demonstre habilidades futebolísticas, passar na média é suficiente, que não tenha trejeitos delicados, seja cortejado podendo ser “espertinho” e com masculinidade a toda prova. Mas e se o inverso acontecer? E se a doce menina tiver um comportamento de “João”? Ou se meninão demonstra gostar de atividades mais femininas? O caos está estabelecido! Começa então a inquietante busca por explicações e psicólogos. Sem respostas biológicas que comprovem o fato, os pais como a se perguntar: _ Onde foi que eu errei? - A inquisição é armada até que o culpado seja encontrado, devidamente julgado e condenado. E todo aquele belo e perfeito planejamento, cai no esquecimento, a tal hora certa; a orientação seguida a risca; a disciplina inquestionável ainda que absurda...Tudo na hora certa deu errado.

Será que deu errado mesmo? Ou será que apenas, não correspondeu às nossas expectativas? Será que a decepção foi gerada pelo muito que nos dedicamos ou por não aceitarmos o resultado alcançado? Quando o primeiro homossexual assumiu sua opção publicamente e sofreu toda a pressão na proporção da época, foi conseqüência de tê-lo feito na hora errada? Se isso acontecesse nos dias de hoje, talvez as reações fossem mais amenas dependendo do meio, da família, nível social, profissional e etc... Contudo, também seria plausível supor que essa “amenizada” tivesse ocorrido devido ao fato de alguém lá trás ter tido a coragem de se assumir na hora errada? Quando em meio ao torvelinho, diante de uma situação aparentemente devastadora, nos sentimos incapazes de julgar o melhor caminho a seguir. E a verdade, é que estamos momentaneamente incapazes, sem conseguirmos ser imparciais nem justos com tudo e todos a nossa volta.

O momento certo, o lugar certo, a hora certa e a pessoa certa tudo ao mesmo tempo, seria esperar perfeição de seres imperfeitos. A perfeição não é uma característica do ser humano, como tal nem saberem o que significa perfeição, afinal cada um tem seu próprio conceito sobre o assunto. Situações “ideais” reforçam em nós o que nos foi ensinado como o correto; como se aprender não significasse lidar com aspectos diferentes, novas tendências e se tornasse uma mera atualização das antigas tradições. Se cada um tem seu momento certo, sua concepção de perfeito, fazer com que isso funcione em sincronia perfeita seria uma máquina de fazer loucos. Nunca seremos todos felizes simultaneamente, dentro uma mesma situação, sempre alguém sairá magoado, provavelmente outros serão contrariados e pouquíssimos estariam plenamente satisfeitos! Pensemos então que já é hora de admitirmos que a hora certa não é aquela que esperamos que seja e sim a hora em as coisas acontecem, mesmo que “errada” essa é a hora certa.