Cinco maneiras de amarrar uma mulher

Como as investidas sobre a vizinha não surtissem efeitos, procurou um amigo para obter alguns conselhos amorosos. A mãe do amigo informou da viagem de férias em algum lugar do litoral paraibano.

Sem escolhas, voltava melancólico para casa quando, ao passar pela vitrine de uma livraria, vislumbrou: “Cinco maneiras de amarrar uma mulher – manual para o homem moderno”.

Sem pechinchar, comprou o livro, sentou no primeiro sofá disponível, estalou o dedo para uma atendente, apontando a máquina de refrigerantes. Esperou, pagou a bebida e abriu a primeira das oitenta páginas que leria em duas horas.

Capítulo 1 – Mulheres gostam de elogios. Quanto mais elogios, mais chances de envolvê-las sentimentalmente.

- Por isso não durei muito com a Márcia. Pensei que ela tinha achado outro ou me traía, mas na verdade eu não sabia elogiá-la.

Uma senhora, procurava um livro de xadrez na prateleira ao lado da poltrona, quis lhe dizer que sempre havia tempo para mudanças, mas disfarçou a curiosidade trocando concentradamente alguns volumes de lugar.

Capítulo 2 – As mulheres gostam de homens modernos com educação antiquada. Em outras palavras: homens elegantes, que abram a porta do carro, puxem a cadeira, ofereçam flores, chocolates e poemas, leve-as a admirar a lua, a uma viagem inesquecível em Buenos Aires, a um vinho fabuloso no Rio Grande ou ao pôr-do-sol na praia de Lucena. Essencial: as mulheres adoram homens que pagam a conta. Do restaurante, da lanchonete, do cinema, do motel.

- Para tudo isso se gasta um dinheiro monstruoso. Será que vale a pena?

A pergunta impensada revoou aos ouvidos da leitora curiosa que, abandonando definitivamente a procura, aproximou-se:

- Sem dúvidas. Sem dúvidas! Uma mulher merece isso e muito mais. E ainda acho que esse livro, disse pegando a capa e lendo o título, ainda acrescenta pouco àquilo que uma verdadeira mulher deveria receber. Pense bem que eu... O discurso prolongou-se por mais de vinte minutos, ao fim dos quais levantou, desejou boa sorte. Se tivesse umas décadas a menos...

Capítulo 3 – Sempre que possível, mostre-se sensível.

Ele leu, releu e trileu este capítulo que continha apenas essa frase. Sempre que possível, mostre-se sensível. O que entendia por sensível? Olhou ao redor, porém não mais encontrou a extrovertida senhora. Desconsolado, passou ao capítulo seguinte.

Capítulo 4 – Nunca brigue com uma mulher. Ela terá sempre razão. Tendo sempre razão, não deixe de ler o capítulo cinco deste livro.

Os olhos cairiam imediatamente no capítulo seguinte, mas um livro voou-lhe aos pés e, em busca dele, uma jovem de vinte e cinco anos, saída do banho, vestido deslumbrante, seios bem postos, pernas lindas e cabelos delirantes. Pediu desculpas.

O sorriso branco convidava-lhe discretamente a acompanhar a dona dele. Um silêncio retiniu em seu ouvido. Impressão de vê-la voltando-se e piscando.

- Um, dois, três. Pulou do sofá, ao pé do ouvido: - Você gosta de vinho? Conheço um restaurante bem agradável aqui em Assis. Não quer ir lá à noite?

Ela sorriu, ele se desesperou. Em seu estratagema, o sorriso precedia o escárnio e desembocava na indiferença.

- Você me pega às oito e meia? Terminou de assinar o cheque e, num pedaço de papel deixado sobre o balcão, endereço e telefone.

Indescritíveis os momentos que sucederam a cena. Inimaginável mesmo seria a da discussão causada por culpa dele que, na pressa de preparar-se para aquela e para as noites seguintes, esquecera-se de ler o capítulo cinco do livro, presenteado ao primeiro que cruzou o caminho:

Capítulo 5 – Por mais que sua paixão se manifeste, surpreenda-o e o deixe feliz, jamais se esqueça de estipular um contrato que aponte claramente que todos os seus bens são apenas seus.

*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 28 de agosto de 2008.