CRÔNICA PARA A LUZ!
Hoje comprei flores para a sala de trabalho.
Comprei num armazém em frente a um cemitério. Tudo no local é antigo, até a forma da disposição das mercadorias, e também como estão colocados os preços em todos os produtos, mas tem de tudo um pouco. De feijão a enlatados, de fósforos à velas. Isso em plena avenida movimentada de Curitiba.
Sem preconceitos compro flores lá. Por quê? São de bom preço. O atendimento é ótimo e as flores são sempre novinhas e lindas.
Obviamente a localização favorece a venda das flores para os mortos. Mas eu sempre as prefiro para os vivos. Dar flores para as pessoas é um prazer para mim.
Adoro reconhecer no semblante do presenteado um regozijo, por mais discreto e escondido que possa estar. Quando a emoção se abre num sorriso então..para mim é a retribuição do presente. Nunca vi ninguém rejeitar flores... ou melhor, até vi um dia...mas isto é para contar noutra crônica.
Voltando ao local da compra das flores. Hoje escolhi crisântemos gigantes de duas cores: brancos, lembrando a paz e lilases da minha cor preferida, cheios de energia, penso eu na hora da escolha.
Vou até o balcão para pagar (sim o armazém ainda tem balcões) e o senhor que imagino tenha passado dos setenta me sorri, elogiando a escolha. Digo-lhe a razão da compra das flores e reafirmo que gosto de flores para os vivos, sem renegar quem enfeita a morada de seus mortos.
Aí, brinda-me o dono do armazém com uma pérola, que tentarei reproduzir mais fielmente possível:
A senhora sabe, disse-me ele, que na minha casa sempre tenho flores, a minha esposa gosta muito. Quando ela está na casa, está sempre tudo iluminado (pensei , será que ela gosta da luz sempre acessa?)mas ele continua: quando ela não está em casa fica tudo escuro. Ela é uma luz!
Por isso acho que tenho que sempre ter flores na casa..enquanto ela estiver viva!
Dali até meu local de trabalho, fui conversando com as minhas flores..era o que me restava fazer!
Crônica de Maria Luiza – 2008 - setembro