O papel que alimenta.

14 HORAS-Me encontro numa rua das mais movimentadas da capital, minha atenção é chamada para um senhor que caminha lento com uma sacola na mão.

Seu olhar era triste e parecia alheio ao tumulto da hora do “pique”

A sacola era volumosa, mas não parecia pesada, mas obrigava as pessoas desviarem dela.

16 HORAS-Na mesma rua um pouco menor o movimento, na minha frente o mesmo senhor com a sacola na mão.

17h30min- Na mesma rua, lá vinha ele e novamente a mesma sacola.

Não resisti à curiosidade e agora propositadamente passo a segui-lo.

Ele calmamente pegava todos os panfletos que lhe empurravam, não fez qualquer distinção. ( Sei, porque vinha logo atrás e também recebi)

Só de compra de ouro recebi cinco.

De cabeleireiros mais três, um de oferta de emprego com possibilidades de ganho de até cinco mil reais (confesso que me interessei), mas o papel era tão vagabundo que logo senti que provavelmente seria mais um golpe.

De mãe e de pai de santo prometendo trazer de volta o ser amado, (e com garantia!) uns cinco. De compra de cabelo(isso mesmo!) dois.

Tinha uma mulher com um cabelo vermelho que estava distribuindo panfleto de funerária (Sic...).

Colocação de película em carro dois, de alarme para moto, dois, de estacionamento três.

Como estava ficando com a mão, cheia revolvi não pegar mais propagandas e somente seguia aquele senhor que não parava de pegar.Pegava e colocava na sacola.

Chegou ao fim da rua ele parou próximo a uma construção, entrou e saiu com uma sacola vazia.

Foi aí então que tive a explicação mais simples. Fiquei com cara de pateta,quando ele calmamente me disse:

-Amigo já estou meio velho para empurrar carrinho para catar papel e papelão.

Aqui nesta rua é tanta as porcarias que vivem entregando para quem passa, que tive esta idéia de pegar papel novinho e eles (apontando para um “entregador” que estava no outro lado da rua) estão loucos para se livrarem dos papeis e muitas vezes dão um bolinho assim ó!(fez um gesto com o indicador e o polegar, mostrando o tamanho do “montinho”).E é só vender.

Dá um pouquinho de trabalho, mas o senhor sabe aquela historia que de grão em grão a galinha enche o papo?

Ele virou as costas não sem antes me acenar.

Como a gente aprende!