Viva Filó!

Um novo integrante na família sempre inspira cuidados inimagináveis. Mas hoje posso dizer que esse “inimaginável” superou toda sua abrangência literal, passando para improvável, incrível, hilário, fascinante ou muito mais.

Ao falar com uma amiga, me surpreendi com sua novidade – "Ganhei uma filha, ou melhor, um papagaio! Melhor ainda: UMA PAPAGAIA!!"

FILOMENA!

A mais nova e tendendo a ser a mais ilustre integrante da família. Família essa jovem, composta por um casal de amigos que representam, pra mim, uma linda, profunda e forte amizade. A Ana e o Diogo. E agora, a Filomena, claro.

Filomena é ainda um bebê, tem a cor da natureza e minúsculos seis meses de vida. Morou em um petshop antes de ser abençoada com um novo lar e essa maravilhosa família. Mas já chegou preocupando os novos pais. Filomena ficou gripada!

Sim, papagaios pegam gripe!

E mostrou que a proeza não se encerraria no fato de pegar doenças de humanos, que nem mesmo os cachorros, que mais convivem conosco, podem pegar. Filomena espirrou!

Pois é. Papagaios espirram!

O tratamento para a preocupante enfermidade de Filó trouxe algumas exigências para seus pais, algumas curiosas, outras mais ainda.

A primeira delas eram os passeios ao banheiro, com água quente ligada para que Filó aspirasse o vapor e desobstruísse suas vias aéreas. E funcionava. Que alívio!

A segunda delas foi que Filó precisou tomar antibióticos.

Com essa informação não pude deixar de imaginar a minha amiga, tadinha, mãe de primeira viagem, insegura, na farmácia, tendo Filomena ao fundo de sua bolsa, (pois não teve coragem de deixá-la em casa sozinha enquanto comprava os remédios – nunca se sabe os riscos que uma criança e principalmente uma papagaia-criança corre sozinha em casa, ainda mais doente) bem agasalhada e bem confortável, mas fraquinha, amarelada pela palidez característica da enfermidade somada à sua coloração verde natural.

Mãe de primeira viagem – "Filomena está com uma gripe fortíssima, nem consegue respirar porque tem suas vias aéreas completamente obstruídas. Precisamos de um antibiótico, moço, por favor!!" (no rosto vê-se o desespero mortal de uma mãe)

Farmacêutico (compreensivo e solidário pelo evidente momento novo e angustiante pelo qual minha amiga passava) - "Claro, senhora! É pra já! Sua filha? Podemos ministrá-la algum descongestionante nasal, se a senhora desejar."

Mãe de primeira viagem (levemente aliviada com a compreensão demonstrada, desabafa) - "Não, moço. Na verdade ela tem ficado fora da gaiola e temos a deixado dormir no banheiro, o que a fez respirar com mais liberdade, só precisamos do antibiótico mesmo. Rápido, por favor!"

Farmacêutico – "Claro, pois não, senhora. Ela tem febre?"

Mãe de primeira viagem – (olhando para dentro da bolsa) "Olha moço, eu tô começando a achar que sim, pois até poucos minutos atrás ela estava verde e agora tô achando que ela ta ficando amarela. Deve estar piorando!"

Superada a gripe após incansável dedicação dos meus amigos, vieram outras e não menos interessantes surpresas.

A Filó ficou mimada!

Hoje, através de estridentes berros de reclamação, Filó exige a atenção dos pais quando eles estão conversando e não a incluem na conversa. Com todo direito!

E mais, quando estão fazendo refeição, melhor tomarem cuidado senão Filomena (sem ser chamada e talvez por essa razão) rouba, sem cerimônia alguma, a comida servida à mesa e, atenção, porque ela pode estar ficando malvada, pois se bobear demais, é capaz de tirar o alimento da boca de seus próprios pais ou, se tiver em um bom dia e se sentindo generosa, acabar comendo ao mesmo tempo que eles, dividindo a mordida ou a bicada, como preferir.

É exigente também quanto aos seus passeios que, depois de sua enfermidade, tiveram que ser mantidos, mas agora é diferente. Ela está independente! Agora Filomena passeia sozinha e conquistou mais liberdade, não tem limites territoriais, tem direito a passear por toda a casa.

Dos pais não precisa, talvez depois, pra lavar as roupas da cesta que após sua visita passam a ficar sujas, bem sujas, mas isso não é problema dela.

E as exigências tendem a piorar. Filomena está aprendendo a falar!

Hoje já pronuncia brilhantemente sons que encantam as noites de seus pais. Já sabe imitar perfeitamente sirene de ambulância e, para orgulho da família, provável desespero dos vizinhos e talvez para comprovar que uma PAPAGAIA não perde em nada para o metido melhor amigo do homem, Filomena se mostrou mestre em imitar um cachorro chorando! Não é incrível?? Aprendizado justificado, além de seu brilhantismo evidente, pelo convívio com os insignificantes e antiquados coleguinhas de sua primeira moradia.

A espera agora se resume ao momento em que ela aprender a pronunciar “mamãe” e “papai”, que será inesquecível, pena que alguns instantes depois ela passará a achar que nós, seres humanos, também somos metidos demais, que precisa de mais espaço ou que o sofá da casa seria muito mais confortável se fosse substituído por um balanço todo de madeira, novinho! E, nesse momento, meus amigos descobrem que adorariam se equilibrar em um tronco de madeira e que isso faria Filomena se sentir novamente integrada à família, o que talvez abrandaria sua revolta adolescente, mas que tomar água sem as mãos será uma tarefa um pouco mais complexa!