Qual é a culpa de tudo e todos num dia estarem contra mim?

Sabe aquele dia que você não pode chegar atrasado ao trabalho, pois haverá uma reunião, um treinamento, um vídeo ou qualquer outra palhaçada que te fará acordar cedo?

No dia anterior, meu chefe passou uma circular para que todos tomassem ciência do horário. Quando chegou a hora de eu assinar, ele me olhou com uma cara de poucos amigos.

Como uma imagem às vezes vale mais do que muitas palavras, entendi o recado.

Chegando a hora de dormir, coloquei o celular para despertar, a televisão para ligar e, também, pedi alguém da casa que sai antes de mim para me chamar.

Para minha infelicidade, não conclui o processo na hora de colocar o celular para despertar, a luz acabou durante a madrugada e quem ia me chamar — pois nunca perde o horário — neste dia infelizmente aconteceu.

Acordei desesperado. Olhei o relógio no criado mudo e vi que faltava apenas meia hora para o horário de chegada estipulado pelo chefe. Só que eu levava exatamente meia hora para chegar lá ao sair de casa.

Pensei em qual desculpa daria. Está difícil, pois meu estoque já estava baixo. Sem contar que todos da minha casa já haviam passado mal nos últimos quatro dias.

Talvez me arrumando rápido, desse tempo de chegar uns quinze minutos depois do horário.

Só que aí está o problema. Em um instante estava pronto. O que dependia de mim, eu fiz.

Ao sair de casa, desci a rua e vi todos tranquilos, como se estivessem em câmera lenta. Cheguei ao ponto de ônibus. Lá passa diversas linhas que me leva ao trabalho. Entretanto, não vinha nenhum. Quando enfim veio um, o motorista não parou, pois o ponto estava cheio de estudantes.

Os quinze minutos de atraso já se tornaram meia hora.

Pensei na cara do chefe. Todos me olhando. Fiquei mais nervoso ainda.

Graças a Deus veio outro ônibus. Peguei-o. De repente olhei, não era um dos motoristas de costume. Este parecia ser novo na empresa. Estava a fim de cumprir todas as regras. Parar em todos os pontos, andar só pela direita na velocidade estipulada e, ainda por cima, estava na última viagem.

Mais desesperado fiquei. Mas a culpa não era minha. O que dependia de mim, eu fiz. Qual é a culpa de tudo e todos neste dia estarem contra mim?

Talvez se contasse a verdade ele acreditaria. O problema é que minha credibilidade não estava em alta.

Quando cheguei à seção, todos já estavam trabalhando, a reunião já havia ido pro "beleléu". As pessoas me olharam. Novamente a imagem falou profundamente comigo.

O chefe saiu para tomar um café. Cheguei no momento certo. Guardei as minhas coisas e fui direto para o trabalho, torcendo para que ele esquecesse a hora a que cheguei.

De repente senti uma mão nos meus ombros. Olhei para trás. O chefe. Ele diz:

— Qual foi o problema desta vez?

Respondi:

— Eu não sei o que houve com o celular, esta noite ele não despertou. A light deixou o meu bairro sem luz. Meu pai não acordou no horário. O motorista não quis parar para mim. O que parou era novato. Se não fosse estes problemas eu chegaria no horário.

Há males que vem para o bem. Uma semana depois, já não estava passando por essas agonias e por esses constrangimentos todos.

André F Gomes
Enviado por André F Gomes em 20/09/2008
Reeditado em 28/12/2011
Código do texto: T1187779