Guris e homens

Escrevi, há um tempo atrás, algo parecido com este texto apresentando as diferenças e semelhanças entre guris e homens, mas minha opinião mudou. Pensava eu que a diferença estava basicamente nos pensamentos, que um guri sempre seria mais impetuoso, enquanto um homem, normalmente, teria mais serenidade. Ainda concordo com isso, mas hoje tenho convicção que as diferenças estão nas atitudes de um ou outro - ou seja, no que fazem e não no que são..

Eu particularmente não gosto de ser chamado de guri, meu chefe até brinca com isso e meu pai dizia que "homem é só depois dos 30". Lições jamais esquecidas à parte, ser chamado de guri é um tanto depreciativo e a imaturidade de um guri se abala com isso, claro. Pior que isso, só ter a imagem arranhada e isso abala o ego de qualquer um. Não é fácil ser homem e ter personalidade para lidar com as coisas da vida, mas tudo bem. Vou contar a história de dois amigos, alterando seus nomes, para explicar um pouco mais dessa coisa de guris e homens.

Amigo de infância, o Zé sempre foi um cara que teve o apoio da família desde cedo, grana para sair e fazer festa, carro liberado para transportar as gatinhas e se deslocar para as bandas do Lili - na adolescência, era este o nome do clube noturno. Toda a semana o Zé enchia o carro e pagava cerveja pra todo mundo lá, era uma verdadeira zona. O Zé era um beberrão, saía do ar fácil. Acabou crescendo e se tornando um homem, mas só na idade. Ele queria ter sempre razão e foi ficando autoritário, brigando e discutindo por bobagem com os amigos - tá até hoje um guri. Todos o chamam assim, e os pais ainda passam a mão na cabeça dele e dão tudo de bom e melhor. Justo, pra um guri...

Há pouco tempo conheci o Julinho, um guri de 15 anos que perdeu os pais bem cedo. O Julinho cresceu numa casa humilde - bem pobre mesmo, tem dois irmãos mais velhos viciados em drogas e que adoram brigar com ele. Tímido e franzino, joga um futebol de craque com a turma da rua nos finais de semana, cansei de tomar janelinha dele. O Julinho é serviços-gerais numa empresa da cidade e acabou de ganhar uma bolsa de estudos para um colégio militar. Conversa com todo mundo e tá sempre rodeado de amigos, é incrível mas na firma onde trabalha sabe o nome de todos os colegas, desde o faxineiro ao patrão e trata todos da mesma forma. O Julinho teve de aprender o que significa responsabilidade desde pequeno e aos 15 anos já é um homem.

Os dois são meus amigos, quando terminei o meu namoro um tempo atrás cada um teve uma atitude. O Julinho conversou comigo e perguntou o que era mais importante. O Zé me chamou para visitar as meninas da zona... Dias depois, discutiu comigo porque eu tinha reatado o namoro, me chamando de mentiroso sem razão.

Tudo isso se perde muitas vezes, um menino assume as vezes de homem e vice-versa, dependendo de situações momentâneas. Mas quem é homem não trata um amigo como guri... Essa é a diferença!