Sustento passional

Finalmente eu posso dizer que meu alimento vem das minhas palavras. Ainda não a arte mais pura e sincera, ainda não algo passional, mas algo verdadeiro baseado em tudo de bom e péssimo que presencio. A ignorância de alguns e o medo de outros, a tristeza, as tragédias, sangue, corrupção. A felicidade, nascimentos de crianças, outras correndo pelas ruas brincando. Contudo, sou obrigado a me inspirar e contar outras histórias, mas elas não me emocionam. É como se eu criasse uma barreira que me impede de sentir-me ligado emocionalmente ao trabalho. Não sei se há uma regra quanto a isso, se tem ainda não aprendi. Algumas lições nem devem ser ensinadas, a vida se encarrega de mostrá-las.

Já me perdi da linha que queria seguir quando comecei a machucar o teclado, mas a idéia está bem explícita. Tentei obter compensação para as tristezas nas letras montadas umas após as outras, e acabei encontrando apenas a compensação financeira guiado pelas propostas antecipadas de histórias interessantes e outras nem tanto. E compensação financeira é até ali também, sempre vou achar que mereço uns trocos a mais, afinal a maioria do povo brasileiro, e essa é minha maior qualidade – ser povo, ganha menos do que deveria. Então me resta seguir trabalhando, seguir comendo minhas palavras, fazendo das minhas mãos instrumentos de luta contra a miséria e o caos, mas acima de tudo instrumentos da verdade, mesmo que não seja daquela forma passional. Acho que na realidade estou dramatizando uma situação inexistente, um apaixonado é sempre um apaixonado.