Para o meu "crocodilo..."

    
                  De
sua “rãzinha
”. 
 

 

          O livro Histórias de Mulheres, de Rosa  Montero, continua inspirando meus escritos.

 

         Quando eu era menina eu ouvia falar de Simone de Beauvoir, melhor explicando, via suas fotos e lia sobre ela e ficava pensando: como uma mulher tão feia pode provocar tantas paixões? E olha que naquele tempo eu nem tinha idéia de que mulheres também se apaixonavam por ela e nem entenderia essas paixões. Também não posso negar. Eu devia ser bastante preconceituoso embora nem soubesse o que era isso. Acho que pensava que o único preconceito existente era o racial. Talvez seja por essa razão que, fazendo um desses cursos malucos de autoconhecimento, quando me pediram para listar os preconceitos que eu tinha fui enfática: eu não os tenho. Não aceitaram a minha resposta e não sossegaram enquanto eu não listei trezentos preconceitos. E acabei saindo de lá me conhecendo muito menos do que supunha me conhecer e com uma máxima na cabeça, parodiando certo filósofo: Só sei que nada sei... de mim. E me sentindo muito mal por ser tão preconceituosa.

 

        Simone nasceu no começo do século passado, há cem anos atrás, em uma decadente família parisiense. Nasceu, porém já com o nariz em pé achando que era melhor do que os outros e conservou esse ar de superioridade por toda a sua vida. A única pessoa no mundo a quem ela se considerava inferior era Jean Paul Sartre, no que provavelmente estava errada. Mas, o amor é cego... Mesmo envolvida amorosamente com outras pessoas Sartre era seu ponto de referência e por ele deixava tudo o que fazia. E eu me admirava também por isso: como pode alguém amar tanto um homenzinho assim tão esquisito? Mas tenho que confessar: meu julgamento era menos por preconceito do que por comparação: quando eu lia alguma coisa a respeito deles, ou via uma foto,  do baixo dos meus poucos anos, eu pensava em um casalzinho pitoresco que havia em minha cidade: a Idalina, alta e espigada, e o Sô Virgulino, baixinho e redondinho. Ao buscar no Google mais alguma coisa sobre Simone, pois não podia de forma nenhuma escrever um artigo baseado no artigo de Rosa, tive uma grande surpresa: a jovem Simone era bonita, muito bonita quando jovem. Preconceito contra velhos, pensei, eis aí mais um para minha lista. Mais um peso na minha consciência. Bem, mas ninguém está livre de pensar ou de escrever bobagens. Simone por exemplo disse que “ a velhice é a paródia da vida” e eu não achei nenhuma graça nisso. Ou então essa: “Viver é envelhecer e nada mais”. Está certo, encontrei estas frases soltas em um site com frases de pessoas famosas e não dá para julgar ninguém por frases fora do contexto.

 

          Simone tinha uma série de qualidades que não tenho, qualidades que eu queria ter: era disciplinada e esforçada e movida por uma grande virtude, sem a qual nada fazemos: a vontade. Talvez por isso pôde influenciar tanto o mundo e mudar a perspectiva com que os olhos da sociedade viam o nosso sexo. Mesmo o que podemos considerar como defeitos ajudaram nessa mudança: narcisista, egocêntrica, elitista e megalômana . Acreditava piamente que a literatura podia mudar o mundo e de certa forma, analisando as conseqüências de sua obra e de seus atos, se sozinha a  literatura não pode mudar o mundo, ela pode influenciar nas mudanças sim. (Rosa não acredita nisso).

 

          Em outro site que pesquisei há uma afirmativa:” considerada uma mulher corajosa e íntegra...”  fiquei pensando: corajosa, tudo bem, mas íntegra? Veja bem alguns aspectos da vida dela: no auge de seu romance com o norte-americano Nelson Algren, recebeu um chamado de Sartre para ir ajudá-lo a corrigir um manuscrito. O que ela faz? Ela  deixa  o parvo plantado e vai correndo atender o seu amo e senhor. Era Sartre o seu confidente e era com ele que ela comentava os seus mais escabrosos casos de amor e juntos riam dos pobres apaixonados. Jean Paul e Simone compartilharam vários “trios” amorosos mantendo casos inclusive com seus jovens alunos. O mais triste é que se consideravam superiores a todos e de todos debochavam. No entanto é comprovado que ela amou muito Nelson Algren :Existe um livro publicado postumamente com suas cartas a ele que mostra bem a complexidade de ser humano e principalmente de ser mulher. Esta pensadora, feminista, considerado uma intelectual de peso, em suas cartas o chamava de “meu crocodilo” e se auto-intitulava: “sua rãzinha”. E com esta eu vou dormir.