POR DORMIR NO PONTO

Quando entramos em um ônibus e o nosso destino não for a última parada da linha, “dormir no ponto” pode ser um grande problema, tendo como conseqüência alguns contratempos, como ter que andar mais do que seria necessário para chegar à sua casa ou qualquer lugar aonde esteja indo, ou, até mesmo, ir parar em algum fim de mundo perdido por aí.

“Dormir no ponto” pode, também, ser uma situação um tanto que constrangedora, principalmente, se as pessoas ao redor perceberem esta nossa pequena distração. Não me recordo de já ter acontecido isso comigo outras vezes, no entanto, como dizem por aí, sempre tem a nossa primeira vez e a minha, foi hoje.

Estava voltando para casa da cidade vizinha, onde estudo, ouvindo as músicas do Teatro Mágico e pensando na vida e nas milhares de coisas que tenho para fazer e tudo em tão pouco tempo. Ao entrar na minha pequena/grande cidade, deveria descer no segundo ponto e pensava nisto quando paramos no primeiro. Neste momento, eu ainda estava acordada, dei passagem para o menino que estava do meu lado e disse para mim mesma que esperaria mais alguns minutos para puxar a cordinha de solicitação de parada. Acho que depois deste pensar, dormi, aquele dormir de olhos abertos, e quando me dei conta, o ônibus já havia parado no meu ponto e estava fechando suas portas e seguindo para o próximo.

Consciente da minha pequena distração, levantei-me num susto só. Com certeza, as pessoas que estavam por perto ficaram se perguntando se eu iria descer ali, percebi que até o motorista olhou para mim através do retrovisor, o que me dava uma oportunidade de dar um grito pedindo para que ele parasse, contudo, eu, com toda esta timidez, disfarcei na hora e todos aqueles que, provavelmente, me olharam (não sei se me olharam de verdade, porque não olhei para eles) ficaram apenas na dúvida se eu desceria ou não.

Dei alguns passos para frente e me sentei em outro banco. Para não confessar a todos os presentes que, realmente, eu havia “dormido no ponto”, fiz questão de não descer na parada seguinte e fui descer somente na rodoviária.

Dei-me como desculpa, para a parada na rodoviária, a necessidade de comprar um rolo de fitilho, o qual já havia desistido de comprar por não saber se vou usar. E quase que minha desculpa vai por água abaixo! Quase que não encontro o bendito fitilho. Em uma loja não havia e na outra, por sorte, a moça encontrou os dois últimos rolos.

Comprado o fitilho, que ainda nem sei se vou usar, preparei os pés e as canelas e tomei o rumo de casa, mas está tudo bem, eu gosto mesmo de andar...

Ter “dormido no ponto” ruborizou minhas faces e me deixou constrangida, entretanto, serviu para alguma coisa.

Primeiro, fez com que eu escrevesse uma crônica e segundo, talvez o mais importante, me fez refletir sobre algumas coisas, me fez refletir sobre este “dormir no ponto”, mas não sobre este que aconteceu comigo hoje. Na verdade, me fez refletir sobre as diversas vezes em que “dormimos no ponto” em nossas vidas.

Não sei se já pararam para pensar a respeito, o fato é que, durante toda esta nossa caminhada pela vida, construímos sonhos, traçamos metas e destinos, no entanto, às vezes, estamos com a cabeça tão perdida pelo mundo da lua, que nem percebemos que logo ali havia um ponto aonde deveríamos e gostaríamos de parar e, por isso, passamos por ele. Esta nossa distração pode nos custar caro, como ter que fazer um longo caminho de volta, com a dúvida de sermos capaz de encontrar no mesmo lugar o nosso ponto de parada.

A mesma coisa acontece com as oportunidades, se “dormimos no ponto” elas passam e nem nos atentamos para elas e se um dia chegamos a perceber, já é tarde demais, pois outra pessoa deve ter se aproveitado desta nossa pequena distração.

Pensando em tudo isso, percebi que vivo “dormindo no ponto” e, sabem, foi até bom o que me aconteceu hoje... Me fez ficar mais esperta....

Dany Ziroldo
Enviado por Dany Ziroldo em 11/10/2008
Reeditado em 09/01/2009
Código do texto: T1223550
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