Um sonho de Natal, o Natal dos sonhos!



Lula: brasileiro deve se preparar para comprar o que sonha no Natal
Presidente está convencido de que efeitos da crise internacional no Brasil são pequenos e de que "o calo é no pé dos ricos"

“Brasília - Convencido de que os efeitos da crise financeira internacional no Brasil são pequenos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (10), que o brasileiro poderá comprar tudo o que sonha para o Natal” (dinheiro.br.msn)

Ao ler essa notícia na manhã de sexta feira fiquei imaginando qual seria o sonho de cada um dos mais de 180 milhões de brasileiros. Já que o presidente prometeu – e ele não erra – achei que é hora de cada um de nós começar a pensar no que aquele gorducho de barba branca (estou falando do Papai Noel) poderia nos proporcionar no próximo dia 25 de Dezembro. – É hora de aproveitar a oportunidade – pensei – não precisamos nos importar com essa anunciada crise que se mostra um tsunami por aí, mas que no Brasil não passará de uma “marolinha”, - palavra do presidente!

Comecei minha lista de desejos; o Pólo já está ficando velho, precisa de pneus novos, mas como em sonho vale tudo, dei uma passada na avenida Europa aqui em São Paulo, estou em dúvida se troco o velho Pólo por uma Ferrari ou um Jaguar, talvez uma Mercedes Classe S, afinal pretendo saborear generosas doses de Royal Salute e vou precisar de um motorista, opto pela Mercedes, vou decidir a cor mais tarde, preto ou prata?

Na hora do almoço encontro amigos no Shopping Morumbi, espalho a notícia, alguns são incrédulos – os contumazes pessimistas, - mas a maioria começa a sonhar tal qual eu fiz. Rapidamente trocamos o self service por um bom restaurante, nada de bandejões, precisamos comemorar, vamos para o Rufino’s. É dia de festa, pedimos ostras e uma garrafa de Calanchi di Vaiano Chardonnay 2004, - uma pequena fortuna, mas para acompanhar aquelas ostras frescas nada melhor do que um branco seco italiano. Como prato principal, pedimos camarões à húngara, e entre uma garfada e outra, enquanto esperamos o fumegante prato ficar numa temperatura apropriada para que possamos devorar os crustáceos, cada um dos comensais vai revelando seu sonho de presente de Natal. Lanchas, carrões, cruzeiros de navio, uma noite com aquela atriz maravilhosa que acabou de passar em frente ao restaurante, uma infindável lista. Pedimos mais uma garrafa do Chardonnay e mais tarde uma outra, “in vino veritas” (a verdade está no vinho), o nosso teor alcoólico se eleva e com ele os nossos sonhos. Ninguém mais pensa em trabalhar naquela tarde de sexta, alguém tem a idéia de perguntar ao garçom o que ele sonha como presente de Natal. Prontamente ele responde e um tanto de saco cheio por nos aturar diz que gostaria de ter um restaurante próprio, na seqüência trouxe a conta, pois o que ele queria mesmo é que sumíssemos dali, já passava das 3 da tarde. Meu Deus, que conta! Sacamos os Visas e MasterCards, lá foi a verba de refeições da semana inteira num único almoço, mas todo mundo está feliz.

Saímos do restaurante e fomos conversando com as pessoas que encontramos tentando fazer uma enquete, muitos não nos dão ouvidos, mas alguns se arriscam a revelar seus desejos natalinos, sonhos muito mais modestos do que os nossos; tvs de plasma, home theater, roupa de grife. Entramos na loja da Fnac, ouso perguntar o preço do notebook que eu vinha namorando a tempo, a simpática demonstradora fala o quanto custa, ainda sob o efeito do vinho acho que é uma pechincha, mas não me arrisco com o cartão. A vendedora me anima, liga a máquina e deixa que eu navegue pela internet, são quase 5 da tarde, leio as notícias; a bolsa despencou, o dólar disparou! Volto à página onde havia lido a notícia, meus amigos começam a duvidar do que eu havia dito antes do almoço. Vou navegando angustiado, o sonho acabou;

Comprem apenas aquilo que seu salário pode pagar, não comprem mais, apenas o suficiente, porque estou convencido de que a crise é grave…”. (Observatório da Imprensa) 

Palavras do presidente, num mesmo dia!

Laerte Russini
Enviado por Laerte Russini em 12/10/2008
Reeditado em 13/10/2008
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