Diamante, dinamite .

Convido um pássaro para tomar café. Ele não aceita. Diz que tem pressa em sua jornada para o sol. Entendo triste. Neste lapso bebo uma bebida fria e doce demais, ando alguns passos e encontro o espelho; "Estranho este ser", penso com a xícara numa mão e a outra tateando a face. Quem é esse na frente do espelho? Alguém já se perguntou isso?

Sózinho procuro na gaveta toda bagunçada da cômoda. Afinal oque é isso? Uma "crise existêncial?", logo penso. Já ouvi essa palavra antes ... "Crise". Mas vou além da simplicidade de uma resposta fácil e tranquilizadora; Quero mesmo saber qual a missão aqui, assim tão sem rumo, tão... gélido.

Encontro algumas cifras do passado e começo a desvendar. Sei que tipo de som gostou aquele no espelho ...

Literalmente cavo a gaveta buscando algo mais esclarecedor para minha mente, agora já um bocado irritada por não saber, na verdade, sua função real. Livros ... encontro livros do passado daquele homem do espelho. Filosofia? Um de química da oitava série todo rasgado, rabiscado. Nada muito esclarecedor. Que sujeito mais estranho é aquele afinal?

Ainda na procura,encontro escritos do passado. Percebo que a pessoa gostava de escrever (mesmo não sendo perito na arte). Receita de bolo não tem aqui ... Não há mais nada nesta gaveta. Não foi possivel desvendar o mistério mutante de um homem que pensava ser tradicional. Não me acho, não me acalmo ( como diz a canção ). O que fiz ontem? Não lembro ... Mas também não culpo a verdade e sua serena falta de compromisso com o bem-estar.

Aquele "ser" estava aparentemente defectivo e indeciso. Foi rápida sua aparição diante dos meus olhos. Um pouco tenso e barba por fazer, um pouco de tudo menos tranquilo. Estava solitário numa manhã de sol brilhante. Diamante. Dinamite.

Não, não trata-se de uma crise íntima. Tão somente confusão com tanta informação sobre o mistério, ponho-me louco por um instânte; Faço caretas e danço bebendo café gelado; Brinco de estatua. Como era bom ser criança! Tenho essa lembrança ... Então já fui humano antes? A certeza me responde positivamente. Fui uma criança ! Alguma fotografia ? Nada ... Não tenho nenhuma prova que um dia fui diferente do que sou hoje. Não tenho nada para me comparar ou para me espelhar, a não ser, o homem do espelho.

Douglas Oliveira
Enviado por Douglas Oliveira em 19/10/2008
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