O CRIME ESTÁ AO LADO DO HOMEM E DELE NÃO SE AFASTA.

          Esta verdade jurídica me leva a refletir, absurdamente perplexo, face aos recentes crimes hediondos e suas repercussões. Delas resultam as mais diversas opiniões e atitudes comportamentais decorrentes da chamada comoção social. Esta, tenta fazer juízo, prejulgar e condenar. Vai às ruas com camisetas e faixas, grita, agride, explode em palavras de ordem, massacra, lincha o réu sem o devido processo legal, cercia-lhe a defesa, condena-o prematuramente à luz da vingança pública.

          No afã da notícia, disputando cada ponto do IBOPE, a televisão direciona suas câmaras “exclusivas” à cobertura do fato, priorizando a programação. Tudo mais passa a segundo plano, até mesmo a ameaçadora crise econômica, o dia-a-dia nos Três Poderes. Sensacional e de interesse maior é o fato retumbante que ceifou uma vida, criou mais um “monstro” e destruiu famílias. Tão preocupante quanto isso é se constatar a disponibilidade de milhares de pessoas divididas entre revoltados e comovidos, juntando-se a um carnaval macabro, cujo enredo é a dor de alguém; seja pela vítima que resultou em óbito, seja pelo autor do crime, a partir do qual vai também morrendo aos poucos a cada golpe da opinião pública.
 
          Que dizer dessa parcela da população que, dizendo-se comovida, acompanha euforicamente o enterro de uma vítima da violência com câmara fotográfica e celular, buscando o melhor ângulo para fotografia? Qual o senso de justiça dos que a exigem a troco de agressões, insultos e pedradas? Olho por olho, dente por dente?Quem assim procede está incólume a qualquer delito?

         Há um certo prazer mórbido tanto por parte da imprensa, como por parte da população, que assiste a esse triste espetáculo sistematicamente em flash back . O caso Nardone ocupou mais de um mês os telejornais. Agora, a menina Eloá, de cujo corpo, num gesto altruísta da família foram doados órgãos, a nobreza desse ato se viu aviltada pela curiosidade estéril e histérica de muitos.

          Repetem-se os fatos, repetem-se as mesmas manifestações populares. E pensar que nem um de nós está salvo do crime, seja como vítima, seja como autor dele. Toda pessoa é passiva de ser vítima ou autora de um delito. Ao nexo de causalidade se ligam as circunstâncias do fato que a lei vem a tipificar. Contudo, o crime está ao lado do homem e dele não se afasta.

Brasília-DF, 22 de outubro de 2008
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 22/10/2008
Reeditado em 03/04/2010
Código do texto: T1242213
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