Finados - Palco de desfile de modas

O dia de finados passou

O cemitério estava lotado de manhã

Lotado de gente morta

Porque de gente viva, tinha pouco

O mal cheiro das velas como sempre estava horrível

As flores, crisântemos baratinhos, estavam murchas

O choro dos vivos pelos mortos

Quase beirava a cena de novela

De tão falso que era,

Pois só choravam quando alguem passava por perto

Mais parecia um desfile de moda dos vivos

Pois num domingo de manhã

Sem sol, e muito nublado

Os óculos escuros eram imensos, mesmo que falsos eram Dolce&Gabana ou Channel

As roupas eram de festa

Os Sapatos eram altíssimos, pra andar nas ruas esburacadas do cemitério

Os homens, como sempre, só riam ou sorriam, do que?

Nem parecia dia dos finados,

Mais parecia um encontro de amigos numa festa de casamento

Mas, afinal, como sempre

Finados é mais um dia de vender flores, velas, doces, sorvete

Santinhos, rosários, maçãs-do-amor, algodão-doce.

Igual à todo feriado

Só se tem objetivos de comércio e muito lucro

E não de respeito ao motivo do feriado

Mas calma... o ano não acabou

Ja vem o dia da proclamação da república (que é isto? República? quem proclamou? poucos sabem)

Depois vem o natal, época de gastança e comilança, e o menino Jesus?

Deixa pra lá..

Feriado é pra passear, gastar e beber mesmo.

Eu ainda prefiro ir ao cemítério no dia que não é finados, e que não tenha ninguém vivo por lá, so eu e os mortos.

Mas ainda bem que na tarde de todo dia de finados chove, e ontem choveu muito, graças à todos os santos, que não gostaram dos vivos, desfilando, no sossego dos mortos.