Salinópolis

Salinópolis

Que razões desvendariam o mistério dos maçaricos "branco" e "vira-pedra"?

Todos os anos migram da América do Norte e do Canadá até o sul da Argentina e depois retornam ao Ártico, para reprodução.

Nesse trajeto fantástico, como se procurassem o encontro do céu com o mar, fazem sempre uma parada em Salinópolis, tanto na ida, em julho, como na volta, em abril.

O mistério dos maçaricos é o mesmo dos paraenses exilados. Sentem um impulso incontrolável de passar as férias de julho na estância balneária de Salinópolis.

Onde quer que estejamos, quando julho se aproxima, somos levados por um intenso desejo de rever aqueles 500 km2 do nordeste do Pará, ligados à capital, Belém, por 257 km de estrada.

Quando os tupinambás batizaram aquela região de Uiranduba ou Uirandeua (lugar de muitos pássaros), pareciam indicá-la, aos maçaricos, e aos homens, como um "intervalo julino", para recuperação das energias necessárias aos longos vôos em busca de verões.

As primitivas fogueiras da ilha de Atalaia, que sinalizavam para indicar a direção da Barra do Pará aos navegantes, parecem continuar vivas em nossas mentes, apontando a direção do nosso regresso.

Os disparos do canhão- hoje testemunha silenciosa da história-, que substituíram as fogueiras, parecem continuar presentes em nossos ouvidos, como marcando o compasso do retorno.

A solidão dos índios, no trabalho de extração de sal do mar de Uiranduba, parece flutuar, invadir nosso espaço e nos pedir, insistentemente, para voltarmos.

A coragem e a astúcia dos práticos, bem como o conhecimento de canais, correntezas, recifes, abrolhos e outros elementos submarinos da baía de Salinas, parecem nos indicar o caminho da libertação de nossa inquietação e ansiedade, companheiras nos "prelúdios julinos".

O sinal luminoso lançado pelo farol, cravado na parte mais alta da cidade de Salinópolis, quando julho se aproxima, parece varrer nossos porões, levantando desejos e lembranças, que nos seduzem à aventura de qualquer viagem para rever Salinas.

A ventilação suave e permanente, os dias brilhantes, mas de temperatura amena, a praia de Atalaia, de águas tranqüilas e salgadas "ao ponto", as noites frescas e protegidas por um céu empoeirado de estrelas são imagens que flutuam como caravelas colorindo nossas mentes, mas com seus tentáculos a queimar nossos corações de saudades e de um profundo anseio de voltar.

O som distante dos sambas, sambas-canções, mambos e boleros, das festas do Bar do Gerôncio, interrompido compulsoriamente pelo apagar das luzes da cidade à meia-noite; o som mais presente dos carimbós, merengues e bois das barraquinhas da Ponta do Maçarico parecem canto de sereias a nos aliciar para o regresso.

O sabor do pescado, dos frutos do mar, das pratiqueiras fritas, camarões e caranguejos, bem como o sabor da água de coco, da castanha de caju, da paçoca, das tapioquinhas , dos picolés e sorvetes das frutas do Pará parecem presentes em nossas línguas,

estimulam nossas glândulas, enchem d’água nossas bocas e liberam nossos sonhos e projetos de retorno.

A possibilidade de encontrar a graça e a beleza de imagens vividas e pintadas por nossa juventude, a certeza de rever amigos e expandir o nosso patrimônio afetivo são elementos determinantes desse "itinerário julino" dos paraenses exilados e dos turistas, que costumam afirmar: "só o ar de Salinópolis paga a viagem".

Viva Uiranduba, Uirandeua, Salinas, Salinópolis.

“Trovinha à Salinas” é nossa tentativa, em rimas, de desvendar o mistério dos paraenses exilados, de explicar as razões da cármica "migração julina" e de declarar amor à Salinas.

Trovinha à Salinas

Quando Julho se aproxima,

algo acontece no meu coração,

de ansiedade, acelera as batidas

com sopros de inquietação.

Quando Julho se aproxima,

perco um pouco a razão,

tal um maçarico “vira-pedra”,

vôo em busca de um verão.

Vôo com as asas da saudade,

presas no dorso da solidão.

O destino é sempre aquela cidade

do atalaia, do farol,

das fogueiras , e do canhão.

Uiranduba de muitos pássaros,

Uirandeua dos índios em liberdade,

Salinas dos Tupinambás escravos,

Salinópolis: rincão da felicidade!

Salinas: linda e feliz cidade!

Salinas do pasto sortido, do riso perdido,

onde o sol e o sal esculpem a beldade,

as areias desejam o infinito

e o vento sussurra votos de eterna amizade,

e o vento sussurra votos de eterna amizade.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 07/11/2008
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