Como a vinte e poucos anos atrás..

Mais ou menos há uns vinte e poucos anos atrás, ao chegar com meus filhos para visitar minha mãe, encontrei-a com o olhar distante, pensativa e com jeito de que havia chorado. Perguntei sorrindo o motivo de tanta tristeza e ela respondeu com lágrimas nos olhos, que meu irmão a esposa e o filhos, haviam conseguido uma casa e estavam se mudando para lá. " Que bom! Falei ". Mas ela chorou um pouco mais dizendo que a casa era tão grande e que só ficariam ela e o "velho" ( meu padrasto no caso ) e que eles pderiam ficar um pouco mais.

Naquele dia não entendi o motivo de tanta tristeza. Somos oito filhos, e todos fomos saindo, graças a Deus, para cuidar de nossas próprias vidas, com maridos, esposas, filhos. Filhos. Sim, hoje como minha mãe, há vinte e poucos anos atrás, me pego chorando ao ver meu filho caçula, arrumando suas coisas e da esposa para partirem em busca de seu novo ninho. Que bom ! Repito como naquele dia a tanto tempo atrás. Só que agora, as lágrimas são minhas, agora a mãe sou eu.

Olho a casa pequena, mas bastante confortável, dentro de nossas possibilidades. Como está imensa, silenciosa. Nesse silêncio dá para ouvir o eco de crianças correndo,de adolescentes implicando, de adultos dividindo comigo suas dúvidas, seus problemas, seus amores, alegrias e tristezas. Lágrimas teimosas insistem em encher meus olhos. Lembranças me levam ao passado. Eu hein ! Que coisa !

Quando li depoimentos,reportagens e vários outros escritos sobre o assunto, me sentia preparada para o momento, mas nada se compara ao fato em si, ao instante em que se vive a realidade .O trecho da canção sertaneja me vem à mente:" o filho quando cresce, vira passarinho e quer voar..."Os meus saõ três: foram saindo, crescendo, voando.. "Oi, tá chorando por quê ? " É minha filha que chega para me visitar, e como eu fiz há vinte e poucos anos atrás, sorri da minha tristeza, me convida para sair e conversar , me anima com seu carinho.

É, pensei, voem meus passarinhos, mas não esqueçam que o velho ninho estará aqui, sempre quentinho a espera, sempre a espera....E agradeço a Deus pela felicidade de tê-los, lindos, vencedores, prontos para voar, ganhar o espaço que para eles se abre, buscando seus objetivos, com muita paz e segurança, como também fiz, há vinte e poucos anos atrás...

Liege Antunes
Enviado por Liege Antunes em 10/11/2008
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