Desconexo do nexo
A realidade é maçante.
Sua vida é maçante.
Seus pensamentos são maçantes.
Seus sonhos se tornaram maçantes.
É tudo a mesma merda sempre e sempre.
Circulo vicioso...
Aceite isso.
Fazer algo para mudar? Ou entregar nas mãos do destino?
Não adianta garotinha...
Você sempre vai sair de casa a espera de um milagre...
E ele não vai vir garotinha...
Sabe por que garotinha?
Porque milagres não acontecem...
Você leu romance demais...
Você romanceou demais.
A vida não é nada do que você imaginou que fosse...
Você foi amaldiçoada pela lucidez extrema.
Você sabe de tudo, tem noção de tudo, e é isso que lhe deixa desesperada querendo gritar enquanto todos sorriem a sua volta.
Tudo é tão maçante...
- Meu nome é Anastásia.
E todos dizem em coro:
- Boa tarde Anastásia.
- Estou há mais de um mês sem tomar um porre...
- Parabéns Anastásia.
E é tudo tão patético... A cena, a trilha sonora, e eu sentada em uma mesa rodeada por pessoas com o mesmo vazio crônico, a mesma sensação de desamparo e o mesmo vicio por fugir da eterna lucidez perante a tudo.
Eles são imbecis... Persistem sempre na mesma tecla...
Eles me irritam, pois são como eu.
- Anastásia, nos conte como foi essa experiência.
Eu dou uma ligeira tosse.
- Ah... Não foi difícil... Digo, foi difícil... Afinal eu estava acostumada a fazer isso todos os sábados, entendem? E agora... Eu não faço mais... E estou sendo perseguida pela lucidez infernal que sempre quis fugir... O motivo para os meus porres... E agora a lucidez não some... Porque não tem nada que a faça ir embora... Eu me cortei outro dia para ver se ainda estava viva... Eu sangrei... Então me responda como eu posso estar viva se tudo é tão morto?! Se tudo é tão maçante, imbecil, vulgar, inútil, trivial, banal, impotente, blasé? Explique-me isso e eu explico como estou me agüentando em pé por ter consciência demais sobre tudo, sobre o mundo, sobre mim mesma, sobre meu um mês sem porre, sobre meu um mês sufocando, sobre meus cortes no braço, sobre meus vômitos após a refeição, sobre meus ossos aparecendo, sobre meus dentes rangendo, sobre tudo o que você quiser, mas me explique então, como eu posso estar viva se tudo é tão morto?
Em menos de meia hora, estava dentro de uma sala sozinha.
Estava condenada a prisão perpetua por falar a verdade e por saber demais.