"VÃO ESTAR NOS ACHANDO..."

Olá amigos leitores, como estreante nesta coluna, primeiro gostaria de dizer do prazer de estar aqui, com minha singela contribuição e desde já agradecer pela oportunidade a mim conferida por este conceituado jornal. Escrever para mim é algo maravilhoso, onde posso extravasar sentimentos, colocar idéias e até contar "causos". Sim, pois em nosso dia-a-dia passamos por muitas situações que na verdade dariam um livro, vários volumes até. Outro dia estava eu em minha casa às voltas com meu trabalho, preparando aulas e tudo mais quando o telefone tocou. Uma voz do outro lado me cumprimentou com um efusivo "Boa Tarde!". Respondi e fiquei esperando o que a simpática moça do outro lado tinha a me dizer, além do Boa Tarde. Ela perguntou quem estava falando, eu disse que era a Rita e ela continuou: - Olá D. Rita Maria dos Santos, tudo bem?, a senhora foi contemplada com nossa ligação! Mas antes que eu dissesse que eu não era essa Rita que ela procurava, a moça já emendou: -Parabéns! A senhora “ganhou uma assinatura gratuita” de nossa revista! E novamente eu tentei explicar que eu não era a tal Rita Maria dos Santos, mas ela, toda alegre e empolgada, já emendou novamente: -A senhora receberá nossa revista inteiramente grátis por... aí eu a interrompi dizendo: -Moça, espere! eu não sou essa tal Rita dos Santos de quem você está falando! Então ela disse, menos empolgada agora: -Claro que é a senhora, seu cadastro consta aqui em nossos arquivos! Eu respondi: -Não moça, meu nome é Rita de Cássia Cassiano, não Rita Maria dos Santos. E ela: -Não, é a senhora sim, aqui constam seu nome e seu telefone! A telefonista era tão veemente querendo me convencer a qualquer preço que eu era a tal Rita dos Santos, que por um momento fiquei confusa. Pensei, ué!, faz 40 anos que sou Rita Cassiano, será que fui enganada esse tempo todo!! (risos). Claro que não. Quem estava enganada era ela, porém não se convencia disso. E ainda continuou tentando me enfiar a tal assinatura gratuita goela a baixo! E em seguida me disse: -“Vou estar transferindo” a senhora para o departamento de assinaturas. Pensei na hora, estava demorando... o gerundismo ataca novamente! E antes que eu também dissesse: “-acontece que não posso estar esperando”, uma outra voz de repente soou: -Boa tarde D. Rita dos Santos, a senhora pode estar me confirmando seus dados? Aí perdi a paciência, me despedi e desliguei o telefone! Nem quis saber o final da história, que aliás, com certeza, eu sabia que acabaria tendo algum ônus. É sempre assim, esse negócio de “ganhar uma assinatura gratuita”, aliás outro vício de linguagem, acabam te cobrando alguma coisa no final. Enfim, me livrei da tal telefonista equivocada e insistente, seus gerundismos, tautologias e tudo mais, mas confesso que o episódio me chamou a atenção. Ela tinha meus dados sim, com nome trocado e tudo, mas tinha meu telefone e até meu endereço, meu e-mail, meu celular quem sabe... Esse cruzamento desenfreado de dados em que estamos à mercê o tempo todo, pela internet, pelos bancos, pelas lojas, supermercados, nos põe expostos demais, vulneráveis demais também. Será que em algum momento alguém nos perguntou se queríamos isto? Será que é o preço que devemos pagar pelas facilidades que nos são oferecidas? Será que é o ônus da tecnologia barata e acessível a todos? Pois é, pode ser tudo isso sim, a contra-partida é realmente implacável. Ou você se “enquadra” ou não é aceito pelo sistema, pela sociedade. O que sei amigo leitor, é que nem podemos mais nos esconder para um momento de privacidade, pois, sempre, alguém “vai estar nos achando...”.

-Esta crônica foi publicada no jornal VOZ DA TERRA, da cidade de Assis, em 19/11/2008.