DIAMANTE IMPOSSÍVEL DE SER ROUBADO

Modernidade, tempo, praticidade, dinheiro, morte. Expondo essas palavras o que talvez fosse lógico pensar é que o último vocábulo entrou para chocar ou trazer quem fosse ler à realidade nua e crua de que, independente dos ocorridos da vida, um dia serão essas cinco letras que nos farão abandonar toda e qualquer coisa que esteja ligada à carne. Mas, não. É preciso ser funcional e usar de recursos modernos na morte, pelo menos é assim que é encarado o fato de transformar cinzas humanas em diamantes. Menos custos (pelo menos na Europa), mais tranqüilidade e a vantagem de ter para sempre juntinho aquela pessoa a quem você tanto estimava (pelo menos em quanto os ladrões não ousarem em surrupiá-la de você). Foi esse relato reluzente que me chamou atenção tempos atrás em uma reportagem. Perdi-a. Mas, por entre os fios entrecruzados da teia que encurta as grandes distâncias mundo a fora, não é que ela chegou às minhas mãos novamente! Acabei compartilhando-a com amigos e, de tanto falar no assunto, como não poderia deixar de ser, fui questionada sobre a minha visão. Nada mais natural agora do que tecer algumas palavras sobre esse assunto alquímico.

Alquimia moderna: tomar um corpo, fazê-lo em cinzas, transformar em carbono, depois em grafite, aquecer a 1700 graus. Ao invés de carbono puro cristalizado e lapidado teríamos João, Maria, Papai, Mamãe... encarnados em pedras preciosas. Se você for um traste em vida quem sabe se torne preciosíssimo depois da morte. Isso pode render muitas piadas, mas eu não sei fazer piadas. Lamentavelmente o destino não me reservou para isso. O fato é que a morte mexe com qualquer ser humano, até mesmo aqueles que se dizem frios e não se abalam milímetros diante dos falecimentos. Para alguns melhor tentar não dar valor e fingir que ela não tem importância, é apenas um detalhe na vida.

Acredito que a morte é didática. Certamente ela ensina mais a quem fica do que a quem parte. A primeira lição que aprendemos com ela é que nosso egoísmo em ter quem amamos pra sempre conosco não adianta. Nos agarramos à vida destes e queremos a imortalidade, como se ser imortal fosse amenizar e resolver todos os problemas da vida. Nos mostra que se queremos agradar, fazer o bem, dar alegria a alguém melhor não esperar a partida. Dessa forma ficamos mais aliviados quando soubermos que não poderemos jamais fazer nada por quem se foi. Onde estão os poderes humanos, como fica a poderosa ciência diante desta firme e incontestável “amiga”? Limitados, são puxados à Terra para terem a clara visão de que não são onipotentes. Certa, está sempre em ação sem precisar de palavras, nos trás um ensinamento prático, único e exclusivo para cada ser humano que a vê agir. Não é intenção da morte amedrontar, ela apenas nos alerta de que é viva e a qualquer momento pode chegar, sem aviso ou convite. Quando ela chega alguém tem que partir e ficar. Não ser esquecido talvez seja o maior desafio para quem se vai. Ficar em fotos, em ossos, cinzas, diamantes, contanto que não seja esquecido, apagado da existência como se não tivesse passado pelo mundo e pelas vidas que ficaram saudosas.

Fotos se apagam, cinzas voam com o vento, diamantes são roubados. O que vale no final de tudo é a lembrança que ficará guardada no coração. Essa não se apaga, o vento não leva e nenhum ladrão a roubará. É o diamante impossível de se avaliar ou de ser tomado.

Silvia Pina
Enviado por Silvia Pina em 21/11/2008
Código do texto: T1296410
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