Precisei escrever.
 
Novembro tem-me sido um mês de aprendizado. Aprendi várias lições celestiais. A primeira delas aconteceu quando a minha cadeira de escritora desfez-se  no ar. Não, eu não estava sentada na cadeira. Estava deitada no sofá, ao lado.  De repente, a cadeira arriou e eu pensei: “Deus o que significa isso?” Às vezes, a gente é burrinha mesmo. Significava apenas: “tudo o que é sólido não desmancha no ar.”   
 
Comprei outra cadeira.
 
Naquele mesmo dia, o meu gato Alemão, invadiu um território desconhecido, abriu uma gaiola, e trouxe na boca um passarinho. Chegou aqui, tranquilamente, com o bichinho na boca e foi o maior auê.
 
Quando finalmente, conseguimos arrancar o bichinho da boca do Alemão, estava morto o passarinho. Na barriga, o buraco fundo dos dentes do Alemão. Um buraco fundo e fino como as dores que a gente coleciona na vida.  
 
Fiquei magoada por demais com o Alemão, porque ele não matou o passarinho por ter fome de comida, ele matou por ter fome de sangue. E aí, confesso: chorei excessivamente para os padrões normais. Um despropósito um adulto chorar por um passarinho, mas eu chorei: era um canário, amarelinho.
 
 Todos que estavam em volta, começando pela Nalva, brigaram comigo. Teve até quem dissesse que eu precisava de terapia. O povo não entende muito bem a minha dor e o meu amor pelos bichos, mas Deus entende.
 
Nalva jogou o canário no lixo e eu fiquei pensando: a quem pertenceria esse ser indefeso? Era um canário de gaiola, que mal se debateu para morrer. Morreu quieto, manso, bobo.  Por certo tinha um dono. Senti a dor do dono. Que se juntou à minha dor. De modo que fiquei toda dolorosa: mais do que o normal!
 
Pela manhã: Chorei, fui malhar, voltei, comi, dormi, sai, orei, não necessariamente nessa ordem. Pela tarde,  a lembrança já me era uma dor controlada. Pela noite, ao jogar mais lixo na lata de lixo, de lá de dentro, do meio dos escombros, um passarinho me olha assustado, com os dois olhos muito abertos, o bico entreaberto, sem rumo, incerto. Mas vivo!!!  
 
 Com o bicho na mão, sentindo o seu coraçãozinho  bater descontroladamente, ao mesmo compasso estrupiado  do meu,  tive a divina inspiração de ir até a casa do Moacir Mazzei e da Marly. Quem sabe, eles não adotariam o amarelinho? Eles não adotaram, naquela noite. Eles haviam adotado há 2 anos: eram os verdadeiros donos. Temos pois aí um passarinho que estava morto e reviveu, que estava perdido e foi achado.   
 
  Os feitos de Deus não deixam muito espaço  para o fazer humano. Os feitos de Deus são parábolas na terra. Cristo não esclarecia as suas parábolas, porque no momento em que se tem que esclarecer uma parábola essa parábola deixa de ser parábola para tornar-se  fábula.
 
Eu não vim ao mundo para narrar fábulas. Não sei bem porque vim ao mundo, mas para narrar fábulas, sei que não foi. Deve ter sido para narrar parábolas.
 
Naquele mesmo dia, um e-mail me chega de além mar. Ele dizia: “ Salmos 124:7 – “ A nossa alma escapou como um pássaro do laço dos passarinheiros; o laço quebrou-se e nós escapamos.”
 
De São Paulo, Sandra, ligou-me ontem a tarde. Minha primogênita esteve pregando numa igreja do bairro Bom Retiro. Ela tinha nas mãos, uma revista evangélica com uma reportagem de página inteira sobre um site. O Título da reportagem é:  “ Você conhece um girassol amarelo?”
 
Eita Deus!!! A revista sairá na próxima semana. Revista de pequena circulação nacional, mas o âmbito de circulação do Deus que eu sirvo é grande. Tão grande que nesta tarde eu só queria louvar. Mas precisei escrever.
Ana Ribas
Enviado por Ana Ribas em 24/11/2008
Reeditado em 24/11/2008
Código do texto: T1300935
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