E SE ...

E se eu fosse uma pianista do Afeganistão. E se eu fosse um agente secreto do FBI, ou uma dançarina cubana. Quem sabe uma surfista Brasiliense? Uma negra alemã. Por que não um guerrilheiro gay? Poderia ser um membro das FARC, ou uma dona de casa. E se eu fosse uma mãe presidiária. Um prostituta em Copabana, ou um travesti muçulmano? E se. E se. E se...

São tantas as possibilidades e no meio deste universo de personalidades, tipos e essências eu sou eu e mais nada. Causa-me estranhamento pensar que há sempre uma limitação em ser aquilo que somos, queria ser também o que não sou.

Queria ser mais racional, menos anti-social. Mais persistente e prática. Menos egoísta e orgulhosa e mais carinhosa. Menos pensativa. Mais realista, menos questionadora.

Não faltam mudanças a serem feitas, mas tenho medo de mudar demais e perder o melhor que há em mim. Como diria minha querida Clarice Lispector: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”. Não é só isso, por mais que mude algumas característica, tem algo que é imutável, não sei bem o quê. Diria que uma espécie de condenação a ser o que é. A a ser humano, limitado e só utilizar 1% do cérebro.

Talvez, só quisesse mesmo que a minha vida tivesse um sentido grandioso. Como aquelas pessoas que para o bem ou para o mal mudaram o curso da humanidade. Ou será isso tudo mera influência hollyudiana? Seja como for, a sensação que fica é que vou sendo cada vez mais o que menos queria ser. Cada vez mais escondida atrás deste computador, enquanto os grandes feitos da humanidade me esperam lá fora. Não sei o que me impede de ir à luta.

Sintia Lira
Enviado por Sintia Lira em 25/11/2008
Reeditado em 20/03/2009
Código do texto: T1303474
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