SEGREDOS POR DETRÁS DAS PORTAS
Sinto o ar cada dia mais denso, tanto que até a respiração tem se tornado difícil.
Os olhares que antes me inspiravam confiança, hoje escondem qualquer coisa sombria. Desviam-se constantemente, por qualquer motivo, nas respostas vazias de todas as perguntas.
Por detrás de cada porta fechada, adivinho sussurros e segredos. Diminuo o passo, imagino-me com o ouvido encostado na porta para tentar escutar o que sutilmente paira no ar. Apenas imagino a ação transgressora, depois sigo pelos corredores de cabeça baixa, fingindo não saber aquilo que, realmente, não sei, mas pressinto.
A sensação é de quase sufocamento. Nem os ventiladores ligados vinte quatro horas por dia, girando com força total, estão se mostrando capazes de fazer o ar circular com mais facilidade. E para tornar a situação ainda mais desconfortável, o sol não dá tréguas. Queima, faz o suor brotar por toda a extensão da pele, aumentando ainda mais o aspecto de cansaço em nossas faces.
Os olhares se entrecruzam atravessados, com a mesma desconfiança depositada em qualquer bandido de alta periculosidade. De repente, todos, sem exceção, se tornaram culpados.
Eu, estranhamente, tenho me sentido culpada, entretanto, nem sei qual foi o crime que cometi.
Todos parecem saber. Todos cochicham pelos cantos. Todos parecem entrar nas salas de portas fechadas onde só há sussurros e segredos. No entanto, o acesso tem sido negado a mim.
Negam-me o acesso às salas secretas. Negam-me o fruto proibido do conhecimento. Permaneço de olhos vendados, ignorante a qualquer tipo de entendimento, contudo, ainda posso sentir.
Sinto de maneira tão forte que é impossível fazer de conta que há normalidade. Sinto como nunca senti antes, tanto, que meu peito se aperta, minha pele se arrepia e a respiração tem se tornado difícil.
Tenho medo de que me condenem, mesmo que inocente. Tenho medo deste não saber. Tenho medo de que amanhã não consiga mais respirar...