LUIS

Acordou descidido a seguir o caminho que tinha traçado na cabeça, feito na noite anterior e já percorrido pelo sonho desta noite.

Nada levava nas mãos além de três camisetas velhas , a sua melhor e única camisa, pequenas coisas mas de um valor incalculável para o jovem.

Sim, ai se foi Luiz na sua caminhada, fugindo da fome.

Lembrava que ainda menino , chegou a ver a mata verde, uma criação de gado que dava gosto, seu pai duro na educação, o transformou em uma pessoa um tanto rude, porém correto nas obrigações e seguro nas decisões, mas neste momento ele pensava, teria tomado a decisão correta? Deixar seu pedaço de terra, deixar sua família e deixar seu coração.

Lá vai ele, chinelo de couro, com o sol a pino, este mesmo que deixou marca profundas em seu rosto, da mesma maneira que riscava o chão deste solo agreste, árido como a boca que pede por algumas gotas de água, nesse momento.

Seco até mesmo em seus sonhos, impiedoso com a sua prole, pois nestes anos que se foram também levaram alguns entes queridos.

Saudades, é algo que dói. Mas para quem vive neste lugar esquecido pelos homens,e sem cometer injurio , também passa ser coisa normal.

Lá vai Luiz com o coração endurecido, ali está ele sentando na trilha a sombra de um mandacaru, de onde colhe a sua seiva, como colhe seus dias, em meios a espinhos.

Cada passo dado o distância mais de tudo, menos de seus pensamentos.

Onde está o que meu pai quando eu ainda menino, com o cabo de uma foice, a enxada, olhando me dizia:

_ Isto tudo aqui um dia vai ser seu meu filho, por isso trate de tudo com seriedade e carinho porque te dará frutos no futuro.

E agora ali ele Luiz , com os pés queimando, o pensamento desordenado, se pergunta:

_ Pai onde esta tudo? Fiz como me pediu! .Minhas horas de pura devoção a trabalhar a terra. As crias, sei quantas vezes meu suor regou estas terras, e o que ela me destes em troca? Nada!

Nada! a não ser uma grande desilusão e a escassez de tudo que se fez em meu lar. Não sonhamos porque não visualizamos nada, não fazemos planos porque a devoção a viver é constante, então vivemos apenas o presente. Diz-me pai onde errei, me diz.