PRECISO REFLETIR PARA ENTENDER

Determinadas profissões exigem contínuo aperfeiçoamento. Desde que conheci Natalia, ela estuda, estuda e diz que nunca vai parar. Acho que terminou o ensino médio há uns 10 anos. Fez especialização, mestrado, doutorado e agora fazendo pós-doutorado. Tem conversa centrada, é inteligente, escreve bem, mas dada sua simplicidade e a profissão que escolheu “Professora”, o título de “Doutora” não lhe é conferido no cotidiano.

Contrariamente acontece com Sérgio. Concluiu ensino médio há cinco anos, tempo de terminar o Bacharelado em Direito e fazer o Exame de Ordem dos Advogados do Brasil –OAB, ele é tratado pelo título de “Doutor”. Não sou eu que estou dizendo, até porque estaria falando de mim mesma, mas a voz do povo é que o advogado é vaidoso, o paletó que é sua roupa de trabalho imprime autoridade combinando com tratamento que lhe é designado, o que já não combina com a simplicidade de Natalia.

Mas, segundo a enciclopédia livre Wkipédia, “o título de doutor é atribuído ao indivíduo que tenha recebido o último e o mais alto grau acadêmico , o qual é designado por uma universidade ou por um estabelecimento de ensino superior autorizado, após um curso de doutorado ou doutoramento”.

Quanto à titulação de “Doutor”, outorgado ao advogado, ao engenheiro, ao médico e demais profissionais da saúde, é prática tradicional pelo respeito ao profissional e nesse sentido as pessoas menos instruídas utilizam ainda o termo para as autoridades ou outras pessoas que desejam demonstrar consideração independente da formação se adequar ao título.

Fazendo um paralelo entre as profissões “advogado e professor,” eles, os advogados têm ascensão a cargos que lhe concedem bons salários, juiz, promotor, defensor público. Os professores mesmo quando coordenadores ou diretores de colégio seus salários são inferiores principalmente quando comparados ao tempo de dedicação para lhe habilitar a exercer a profissão do magistério. Por exemplo, um professor universitário atualmente não conseguirá fazer um concurso para efetivo se não tiver no mínimo um mestrado, exigindo assim um bom tempo de estudo dentro de sua área.

Incrível ainda, é quando a professora gasta o que ganhou em três horas/aulas depois de tantos anos dedicação em troca de um trabalho cuja profissão só exige formação técnica. Três horas aulas corresponde a quase uma hora de salão para fazer um escova inteligente.

Não estou questionando aqui o preço do trabalho cobrado pela cabeleireira nem menosprezando sua profissão. Cada ofício tem sua importância, seu valor e o que seria da professora se não contasse com essas profissionais para lhe deixarem, linda, bela e elegante? O que está em jogo é o desencontro das duas profissões. Deixando mais claro, o descaso com os profissionais da educação, querendo dessa forma fazer mais um protesto porque essa história é antiga e embora repetitiva não muda. Mas, como diz o ditado: “Água mole em pedra fura tanto bate até que fura”.

Voltando a história do “doutor”, contam por aí que Fabrício, logo que concluiu o Bacharelado em Direito, mesmo antes de passar no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, ligava para sua própria casa e perguntava:

- O Dr. Fabrício está?

A finalidade dessa tresloucada ligação era ir logo acostumando os empregados da casa e até os familiares, a acrescentarem o “doutor” antes de seu nome. Segundo ele, os bons costumes começam de casa.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 01/12/2008
Reeditado em 09/05/2020
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