O vexame do meu dentista!

- Erro “dentístico” !?!?!?

- Que nada, é o mais gabaritado odontólogo de que tenho notícia. Olha, sou cinqüentão, já sofri, vi, ouvi e li muito à respeito. Igual a ele ... sei não!

- Então é a morte do Policarpo ?

- Aquilo é coisa do tempo do onça, serviu para confirmar sua conversão, iniciada com a Mariinha do Coronel Bento. Reza todas as noites Pede proteção para seus clientes que perdem o “juízo” e para as Mariinhas inspiradoras da fé.

- Ah! Já sei, a secretária deixou ele arrumar amante!

- Bobagem! Logo ele: poço de dedicação. Paixão adolescente. Pai idolatrado. Os olhos brilham, até baba, só de olhar a foto da netinha! Não, meu dentista está vacinado contra licenciosidade.

- Desisto! Vá lá, fala logo o que aconteceu, com o santo do seu dentista!

- Nem te conto! Lembra ... é ... é ela mesma. Não acredita que ela foi ao meu dentista. E justo no dia que ele atende ... parece pecado... justamente no dia em que vão todas as carolas da freguesia. E eu ‘tava lá. Coitado. Também, quem manda querer fazer caridade!

- Pois é. Ela entrou, toda, toda. As beatas acompanharam só com o rabo de olho e um dar de ombros. O purgatório até tremeu...

- E daí ?

- E daí !!! Não se passaram cinco minutos. Vem lá de dentro um barulhão de cama caindo... um gritinho fino, misto de pavor ... cá fora duas dezenas de olhos esbugalhados, dez mãos em bocas abertas sustadas e correria para a porta.

- Abre... não abre.... abre ... não abre ... abri ...

- Que delícia: meu dentista esborrachado em baixo de mais de cento e cinqüenta quilos de mulher, balançando as perninhas ... as corocas correndo, esbravejando “crus-credos”, persignando, clamando o sangue de Jesus contra a pouca vergonha ...

- E aí ?

- Aí ... aquele corpanzil, a cadeira não agüentou. Virou para trás. Ela, num reflexo defensivo, agarrou meu dentista pelo cangote e o arrastou consigo para o chão ...

- Quê vexame!

João dos Santos Leite

Ituiutaba – MG, 26/09/2003