Calcanhar de Aquiles

Foi-se o tempo em que eu era a manchete que o jornal não publicava, a famosa bala que matou J. Lennon, ou o ovo do eggburger. É, good times... Nessa noite quente como as prensas que fazem jornais, os canos de armas quando atiram balas ou como as chapas que fritam eggburgers, descubro que não passo de um simples calcanhar de Aquiles.

Sou um calcanhar de Aquiles com 1,64m. E que tal uma arqueira exímia como a vida atirando suas flechas chegando a mim o tempo todo? Ô diacho! Se não tomar uma providência, em breve viro um calcanhar queijo suíço.

Quando foi que virei calcanhar? Enquanto não achava que era vulnerável, não o era. A gente só vê o que quer ver. Igual a cobra do documentário. Deixa contar sobre essa cobra.

Tem uma espécie de cobra (não lembro o nome) que come uma espécie de rã (não lembro o nome também, não sou bióloga!). O certo, e mais importante, é que depois que alguma rã ficou horrorizada quando presenciou outra compatriota ser devorada pela cobra, se retou e não quis ter o mesmo destino. Criou um artifício fantástico. Essa rã fez com que sua pele emitisse determinada frequencia que faz com que ela seja invisível ao olho da cobra. Não é demais? Desde então a pobre cobra não come mais dessa rã se ela ficar quietinha na folha. No dia que a cobra se tocar...

A cobra existe, a rã existe e elas não se vêem porque uma das duas se faz invisível. A rã faz de conta que não é rã pra cobra. Eu fazia de conta que não era calcanhar, que não era vulnerável, pra mim mesma. A hora que a gente se toca que a gente é o que negava veementemente ser, é bastante interessante.

Enquanto dizemos "isso não é comigo" estamos com os olhos vendados. Quando dizemos "isso não costumava ser comigo" abriu-se um pouco os olhos. Na hora que dizemos "isso sempre foi comigo, onde é que tava meu olho, hein?" a luz começa a formar uma imagem na sua retina.

Já disseram "por que não usa uma armadura?" Experiências anteriores, que nem as de OMO, comprovam: já usei, não dá certo. A flecha-lição vem mais afiada, passa pelo material da armadura e pega do mesmo jeito.

Mas com OMO Progress você acaba descobrindo que fazer armaduras, levantar muros, entrar em conchas, se fechar no próprio mundo, é tudo a mesma coisa. A tática, mais do que falível, é a mesma. Pense, menina. Você pode ser um calcanhar, mas não é calcanhar burro!

O único jeito de não ser atingida pelas flechas é deixar de ser alvo.

Passou perto essa! Por pouco não estraguei a brincadeira da vida em colocar a gente de calcanhar de Aquiles. O foco não é esconder para depois descobrir e maximizar os defeitos mas aproveitar e usar bem as qualidades.

Aceitar a condição de calcanhar é o primeiro passo. Por enquanto calcanhar. Quem sabe, na próxima existência posso ser promovida a panturrilha.

Andréa Sant Anna
Enviado por Andréa Sant Anna em 02/12/2008
Código do texto: T1314538
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