Eureka!

Semana passada, olhando um quadro no MASP, tive a sensação de estar perto de descobrir uma coisa importante. Já me sentia uma celebridade por ter feito tal descoberta. Foi tão rápido... Quase estava sabendo esse negócio e de repente não sabia mais.

Aquela combinação de cores e formas estavam quase me revelando uma grande verdade universal. É uma sensação tão intensa, alegre e imponente que você até cresce. Cresce que nem pão com fermento. Pão puro não cresce. Fermento puro também não cresce. Então tem de ser o pão com o fermento mesmo.

Bem, depois de olhar a segunda vez o efeito não é o mesmo. A sensação foi embora e a descoberta nem deu para descobrir. Foi só uma vez. Uma chance de descobrir o oculto, o desejado, o real, o impossível de ser descoberto.

Num piscar de olhos você sabe tudo que precisa, está integrada com tudo a sua volta, está cheia de si, está em harmonia com as notas musicais, está estável como os gases nobres. No bater de pálpebras você está normal e volta a ser só você. Você como é hoje, sem saber de nada extra, sem ser celebridade, só você mesma, você sem fermento, você como um pedaço da descoberta que estava perto de fazer.

Imperfeito e constrangedor esse momento. O instante em que você volta a ser apenas você é vexatório. Era melhor quando você estava quase descobrindo. Sentindo-se como Indiana Jones. Que tesouro invisível aquele quadro deixou eu ver por um segundo? Tornou-me poderosa, sábia e alegre. Um tesouro e tanto. Inesquecível como todo tesouro...

E só lembrei disso agora com a chuva que cai e pára de cair. Como o segredo que eu ia descobrir e parou de se mostrar. Sumiu rápido como a chuva que pára, rapidinho como um olhar.

Sei que não adianta sair olhando outros quadros para ver se descubro de novo aquela descoberta. Tenho a impressão de já ter sentido isso outras vezes, e não olhava quadros. O melhor de fazer descobertas não é pelo que se descobre no final, mas pelo que sentimos no percurso do descobrimento.

Os olhos olham. O olhar enxerga. O que você enxerga faz sentir. O que você sente faz descobrir. O que você descobre faz ver de verdade. E é aí que a gente descobre as coisas. Mesmo que não lembremos delas depois. Um dia eu ainda vou dizer e lembrar porque disse 'Eureka!'.

Andréa Sant Anna
Enviado por Andréa Sant Anna em 02/12/2008
Código do texto: T1314547
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