A Morte do Nada
Tava ali tão sério, tava tão consternado,
E os homens gritando a passar-lhe a mão.
Enquanto se curvava, fez-se ouvir um estalo,
O estalar dos dedos... quase um coração.
Parecia anjo, parecia gente,
São Miguel Arcanjo, Judas, São João.
Eram 12 apóstolos, era o Onipresente,
A caveira e os dentes, sombra de um vulcão.
Buscava a boca aberta, os lábios ressecados,
O medo estampado em meio à multidão.
Foi quando ouviu um passo, o cristal quebrado,
Um monte de cacos, cores da visão.
Cego e atordoado, caleidoscópio armado,
Quase equivocado soprou seu nome em vão.
Não era Afrodite, Vênus, Juno ou Baco,
Um Aquiles fraco, calcanhar na mão.
Era quase um espelho, um flamboyant vermelho,
O rubro de ataduras, fogo no Sertão.
Já não era pálido, um carvão queimado,
Grafite triturado, pó que cai no chão.
Era o sopro leste, derradeira peste,
Caxias psicótico, vulto no porão...
Era o vento agreste, ramo de cipreste
Coroando a face, fácil Fá, canhão.
Vinha desarmado, esporas cromadas,
Luz de alma cremada, quase aluvião...
Chegou renascido, do inferno erguido,
Veio à meia-noite, confiscando o pão.
Comeu todos os vícios, sentiu o precipício, pulou de um edifício...
Era a Redenção!