"Coripha Umbraculifera"

Sem dúvida alguma, a Natureza, além de nos proporcionar o mais belo dos "shows", o da vida, tem muito a nos ensinar.

Costumamos exemplificar com o aprendizado que tivemos com os ben-te-vis e com os pombos.

Os bem-te-vis nos ensinaram o poder da união. Realmente ela faz a força. Três deles botam para correr um gavião.

Num pombal que existia na casa de meus avós, testemunhamos o desenvolvimento dos filhotes ("pombos-bebês"), bem como a insegurança que os mesmos sentiam ao bater as asas para o primeiro voo.

Num belo dia, o pombo-pai, que regurgitou durante mais de mês, todos os dias, o alimento para o papo do filhote, entra na casinha do pombal e expulsa o "pombo-bebê".

Observamos essa cena muitas vezes. Nesse longo e distante tempo, nunca presenciamos o insucesso de um filhote ao bater as asas para os espaços de uma vida nova, adulta e independente.

Lá se vai mais de meio século. Jamais passara em nossa mente que, num dia, apesar de nos sentirmos, ainda, totalmente aprendizes da arte de viver, teríamos que começar a nos preocupar em aprender a morrer.

Vivenciamos, no presente, o grande conflito entre:

apegar-se à vida desesperadamente e tentar esquecer, ou desconhecer que a morte vem paulatinamente ao nosso encontro;

ou viver a consciência do fim e incluir no nosso cotidiano a preparação e o treinamento para o desempenho de nossa última cena.

Mais uma vez a Natureza oferece seus ensinamentos. Não existe qualquer garantia que aprenderemos, mas, por meio da palmeira "Coripha Umbraculifera", a Natureza aponta o caminho.

Essa palmeira, natural do Sri Lanka e da Malásia, nas regiões Sul e Sudeste da Ásia, vive em média 50 anos.

No Rio, no Parque Brigadeiro Eduardo Gomes, junto ao Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, existem vários exemplares da espécie.

A "Coripha" tem na floração a sua maior característica. Floresce uma única vez e, quando isto ocorre, é o prenúncio do fim da sua existência.

No seu florir exuberante, a “Coripha" demonstra que, apesar de a partir daquele momento iniciar seu declínio, tem consciência de haver embelezado os parques e produzido a sombra. Tem fé em que, tal como as lagartas se transformam em borboletas, a morte não será o fim, mas a transformação, outro início, um renascer.

“Coripha" são as rimas produzidas pelo conflito de quem teve o privilégio e o drama de, em pleno gozo da vida, constatar que a morte é certa num futuro incerto, bem como perceber, com a ajuda da "Coripha Umbraculifera", que: "na natureza, tudo que se transforma é porque já floresceu"

" Coripha "

"Coripha”, palmeira amiga,

responda, por favor:

como no fim da vida,

permaneces altiva e desabrochas em flor?

Altiva: filha da Natureza

e do dever cumprido.

Dos parques sou beleza,

e dos ninhos o tecido.

Meu destino, minha sorte

é viver só para o amor

e ficar ciente da morte,

quando desabrocho em flor.

Meu ventre, em flor, celebra a vida

tentando te dizer: a morte não é o fim.

Desabrocha tuas flores, amanhã pode ser a despedida

e vamos fazer, do planeta, um imenso jardim,

e vamos fazer, do planeta, um imenso jardim.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 06/12/2008
Reeditado em 29/06/2021
Código do texto: T1321497
Classificação de conteúdo: seguro