Rir é o melhor remédio (3)

          Quando estava participando da Cerimônia da Tenda houve um momento muito bonito. Foi quando o Xamã nos convidou para juntos entoarmos um mantra utilizando cada um de nós uma palavra que gostaríamos que fosse presença em nossa vida. Escolhi decisão e junto a outras vozes levei a minha voz até o Universo.

         Saí da Tenda Xamânica e voltei para esta Tenda Universal que é a vida, impregnada dela. Decisão. Decisão.
 
          Passados alguns dias, já completamente incorporada ao mundo comum e as suas obrigações rotineiras estava eu em meu quarto prosaicamente limpando a estante onde guardo alguns livros. Por um desses acasos que os místicos não chamam de acaso, mas providência divina, peguei um livro sobre Tarô: o Tarô Zen de Osho. Foi nesse Tarô que em outro momento vivido na Tenda eu tirei aquela que seria a carta que deveria nortear minha vida. Resolvi tirar outra. Tirei a carta chamada Adiamento. Como adiamento é algo que a gente faz quando não consegue decidir o que fazer resolvi ler o texto que acompanha a carta. Porque deixar para depois a tomada de qualquer decisão é algo que já está me incomodando. Talvez pudesse encontrar ali um bom conselho.

          Preciso explicar que já ouvi falar de Osho, apenas ouvi. Nunca me interessei por ele e até esse livro com Tarô que tenho, ganhei de presente. Nunca li nada de Osho, nem mesmo o livro que tenho. Mas se tivesse imaginado alguma coisa sobre ele era que fosse um suave velhinho cheio de bons conselhos de auto-ajuda que provavelmente o enriqueceram.
 
          Foi uma surpresa para mim o palavreado do Mestre Zen: ele diz claramente que adiar é estúpido. Que mais dia menos dia eu vou ter que tomar uma decisão então que eu tome logo. E ainda por cima faz perguntas desaforadas questionando se acho que amanhã estarei mais sábia, mais vigorosa ou mais jovem do que hoje. Perguntar não ofende o que ofende é que ele já traz a resposta pronta: amanhã você estará mais velha, com menos coragem, com a capacidade de dissimulação maior e com mais medo, pois estará mais perto da morte. E quem disse que o amanhã vai chegar? Pode ser que sim pode ser que não, ele diz e tenho que concordar. Se tem que decidir, decida já.

          É aí, depois de espinafrar meu auto-conceito que ele resolve contar uma piadinha. E eu que não sei contar piadas embora ria as gargalhadas quando gosto de uma, acabei fazendo isso e até gostando do velhinho.

          Conta ele que um determinado dentista tendo acabado de examinar uma jovem e bela cliente lhe disse: - Senhorita, acho que terei de arrancar os seus dentes do siso. Ao que a assustada moçoila retrucou: Minha nossa, seria preferível parir um bebê! E então, o dentista calmamente concluiu: - Quer decidir logo para que eu possa acertar a posição da cadeira?

          Seja lá como for acabei chegando à conclusão que na impossibilidade de decidir alguma coisa rir é o melhor remédio.